Dois e mil doze começou com cheirinho de luta e com esse mesmo perfume desfilou o ano inteiro, mas para cada passo perfumado não faltou o odor sufocante da repressão para nos tomar o ar.
Logo em janeiro, a Policia Militar do Ceará fez greve, recebeu apoio dos movimentos sociais e arrancou vitória do truculento governador do PSB, Cid Ferreira Gomes. Em Teresina a juventude foi à rua contra os aumentos de passagem mas lá a polícia não só não parou como passou literalmente por cima dos manifestantes. E em São José dos Campos, os moradores do Pinheirinho se preparam para o pior e infelizmente ele veio, com toda sua pompa de crueldade.
Em fevereiro foi a vez da PM baiana fazer greve mas lá a briga foi com o governador Jaques Wagner do PT, logo o PT que há pouco mais de uma década defendia o direito da polícia fazer greve. Na Grécia ocorreu a primeira greve de uma onda de protestos que correu o país durante todo o ano.
Março foi o mês dos portugueses pararem em greve geral enquanto que no Brasil, militares comemoraram o golpe de 31 de março de 1964 em um verdadeiro insulto à memória do povo brasileiro.
A crise européia se aprofundou mês a mês e em abril levou ao suicídio o aposentado Dimitris Christoulas, uma saída individual e desesperada, mas cada vez mais frequente não só na Grécia como em outros países da Europa como a própria Itália. Em Alagoas a truculência policial marcou presença com uma inusitada aula de democracia ("quem manda aqui sou eu").
Maio é o mês do trabalhador. Na Grécia, Espanha e França trabalhadores saíram às ruas mas nos Estados Unidos não (Galeano explica o por quê). Em Rondônia a violência contra grevistas mostrou que não existe idade para apanhar da policia e em Belo Horizonte o rapper Emicida foi preso por simplesmente colocar o dedo na ferida dessa maldita violência policial.
Em junho os operários da construção civil de Fortaleza entraram em greve contra a violência cotidiana do trabalho, enfrentaram a violência mentira dos jornalões da cidade e ainda assim conseguiram uma bela vitória contra seus patrões.
No mês de julho, uma marcha negra levou ao conhecimento do mundo a luta dos trabalhadores mineiros espanhóis. No Brasil as eleições e a reação democrática tomaram o palco enquanto lutas e a maldita repressão diminuíram seu ritmo, mas a imprensa seguiram seu rito de tentar desacreditar os que lutam.
A Rússia foi o grande palco da repressão à liberdade de expressão em agosto com a prisão das meninas do Pussy Riot. No Brasil uma conquista do movimento negro e do povo pobre se deu pelas mãos da justiça, foi pouco, mas ainda assim não deixou de ser conquista.
Na Espanha, a manifestação do 25 de setembro foi duramente reprimida e na Grécia bombas caseiras foram lançadas contra a polícia.
Outubro é mês de falar de revolução mas em ano par também é tempo de eleição. E entre esta e aquela a democracia burguesa normalmente fala mais alto do que a operária. Em Lisboa o clima de protesto chegou às passarelas e no Brasil a luta do povo Guarani-Kaiowá ganhou espaço nas mídias sociais.
Em novembro a Europa foi palco da primeira greve geral do continente com manifestações na Espanha, Alemanha, França, Itália e Portugal. No Brasil, a justiça condenou os envolvidos no mensalão e o ministro da Justiça declarou (depois da condenação de seus amigos) que preferia morrer que ficar preso no Brasil.
E dezembro... dezembro é natal... o desejo de consumo foi celebrado nos quatro cantos do planeta enquanto os "ajudantes" de papai noel preparam muitos e muitos brinquedos, trecos e troços para serem comprados e distribuídos como presentes (ou seria oferenda?).
E assim mais um ano se foi. Que venha o próximo... e que seja revolucionário.
o movimento de mulheres não merece uma única menção nesta retrospectiva?
ResponderExcluirOi Cora,
ExcluirA retrospectiva foi toda feita em cima de minhas postagens no blog. Não acompanho direito o movimento de mulheres. Tenho posts de opinião sobre a questão do machismo mas tentei evitá-los na restrospectiva. Até pensei em colocar o post sobre a Marcha (fiz dois) mas preferi não retomar a crítica.
Mas você não deixa de ter razão.
Fiz 26 posts com a tag machismo no blog durante o ano. Poderia por exemplo ter citado o caso da Malala ou algo sobre o 28 de setembro. Encaixaria muito bem no formato que dei a retrospectiva.
Obrigado pela crítica.
Abraços
talvez pelo fato do movimento de mulheres (falo do feminismo) não ser exatamente revolucionário, mas reformista.
ResponderExcluiracredito que isto o torne muito mais difícil de ser concretizado e até compreendido.