Noite de 27 de março de 1973. Marlon Brando é indicado ao oscar de melhor ator em O Poderoso Chefão, mas ao invés dele, uma jovem de 26 anos trajando roupas tradicionais indígenas é quem se dirige ao palco. Meio sem jeito Roger Moore lhe oferece a estatueta para ficar ainda mais desconcertado com sua recusa. A mulher apresentada como Sacheen Littlefeather (Sachen Pena Pequena) tinha em suas mãos uma carta de Marlon Brando esclarecendo sua ausência e recusa ao prêmio, que não pôde ser lida em função da ameaça da indígena sair do local algemada. Em seu lugar, Pena Pequena fez a seguinte declaração:
Olá. Meu nome é Sasheen Littlefeather. Eu sou Apache e eu sou presidenta do Comitê Nacional de Imagens Afirmativas dos Nativos Americanos.O discurso que Brando havia preparado era obviamente muito maior. Foi substituído por uma declaração que não poderia superar em hipótese alguma o tempo de 1 minuto. Em determinado momento a ativista calou-se, sendo vaiada por uns poucos e aplaudida por outros. O episódio foi reproduzido na grande imprensa obviamente de forma muito negativa. Em pouco tempo veio a notícia de que Sacheen não era Sachhen, que era na verdade Marie e que não era indigena coisa alguma e sim uma atriz contratada por Marlon Brando.
Estou representando Marlon Brando esta noite e ele pediu-me para lhes falar em um discurso muito longo, que não poderei compartilhar com vocês hoje, por causa do tempo, mas ficarei feliz em compartilhar com a imprensa depois, que ele com muito pesar não pode aceitar este prêmio muito generoso.
E a razão para isto é o tratamento dado aos índios americanos hoje pela indústria cinematográfica - desculpe-me - e na televisão, em filmes regravados, e também com os acontecimentos recentes em Wounded Knee.
Rogo para que neste momento não seja vista como uma intrusa nesta noite, e que no futuro, nossos corações e os nossos entendimentos possam se reunir com amor e generosidade.
Obrigado em nome de Marlon Brando.
Marie Louise Cruz, esse era o nome da mulher, pelo menos seu nome de batismo. E sim, ela era uma atriz que em 1973 participou de seu primeiro filme, o Conselheiro do Crime (Il Consigliori). Mas da mesma forma ela também era Pena Pequena e uma ativista do movimento indígena, e agora havia protagonizado o primeiro ato de protesto político da história do Oscar, colocando a revolta de Wounded Knee no centro das atenções de toda a imprensa, quando aquilo que mais queria o governo Nixxon era exatamente mantê-lo bem escondido. Naquela mesma noite centenas de indígenas que ocupavam o pequeno distrito de Dakota do Sul exigindo respeito ao direito de viver em suas terras estavam cercados por agentes do FBI armados até os dentes. O cerco durou 71 dias, com um saldo de 2 mortes e mais de 500 presos e feridos, encerrando-se com mais uma rendição por parte dos povos indígenas e mais um acordo não cumprido por parte do governo federal dos EUA.
Passados quarenta anos, hoje, outro governo federal está disposto a enfrentar povos indígenas para explorar as terras onde eles nasceram. Mas ao invés de Wounded Knee e Richard Nixxon, o lugar é Belo Monte, e a presidenta que está disposta a massacrar direitos e vidas dos indígenas é a petista Dilma Roussef. Ao que tudo indica a história se repetirá como uma imensa tragédia, sem o glamour do protesto de um Marlon Brando, mas com tanta coragem quanto, ou quem sabe ainda mais do que a que protagonizou a jovem apache que impediu a premiação da máfia.
Abaixo o video com o momento em que o Oscar não foi entregue:
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