domingo, 28 de fevereiro de 2016

OCUPAR E RESISTIR #RapDuBom

As ocupações das escolas secundaristas de São Paulo renderam muitos sonhos, esperanças, exemplos, documentários e também como diria Rappin Hood, "Rap do Bom". Pelo menos é o que se pode ver em "Ocupar e Resistir" dos estudantes Luka (Koka) do Grêmio do Caetano de Campos da Consolação e Fabrício Ramos.

Aperta o play e sente o som.



OCUPAR E RESISTIR

Salve família
Secundarista na voz
Vai segurando
De São Paulo pro mundo
A rua é nossa
Você tem sede do quê?
Eu quero outra escola
Não mexe com quem tá quieto

Acordei olhei pro lado
Vi manifestação 
E do outro lado vi
Uma pá de ocupação
Enquanto uns gritavam felizes
É campeão
Outros apanhavam e lutavam
Pela educação
Política desinteressante
Causada pela corrupção
Estigma digna indignação
Qual seria o tema do
Debate em questão
Gol da Alemanha
Ou senador no mensalão
Suor cansaço 
Causado pela exaustão
Fome e morte
Causada pela ambição
Enquanto nas ruas
O que se vê é opressão
Auto opressão
E na mídia
Alienação
E quem será o culpado em questão
Aquele que é eleito
Ou aquele que 
Vota na eleição

Direita tropa de choque
Em cima o governo fascista
Esquerda argumentação
Embaixo secundarista (2x)

Ocupar e resistir (8x)
Quantos lutaram 
Gritaram faleceram
Mais de mil?
Aqui vai virar o Chile
Ou o Chile virou o Brasil?

Memorável
Luta consciente
E coincidentemente incrível
E é difícil e dói saber
E descobrir
Que a única coisa 
Que cresce mais que a inflação
É o genocídio 
Só pra deixar bem claro, irmão
Não tem arrego
Você fecha a minha escola
E eu tiro o seu sossego.

Salve família
A rua é nossa

Ocupar e resistir (25x)

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Gregos fazem sua terceira greve geral de 2016. E a nossa quando sai mesmo?


Nesta quinta-feira, dia 04/02, em torno de 50 mil trabalhadores se reuniram no centro de Atenas que mais uma vez virou palco de guerra com manifestantes enfrentando a repressão policial a base de paus, pedras e coquetéis molotov. As imagens da batalha campal impressionam mas são só uma pequena demonstração de força e capacidade de luta a que chegaram os gregos. Escolas por todo o país foram paradas, o transporte entre as ilhas gregas e o continente foi suspenso, o transporte público parou e até mesmo hospitais ficaram somente com o pessoal de emergência. É a  terceira greve geral de 24 horas nos últimos 30 dias contra a situação de crise que se abateu na Grécia e obviamente também contra Tsipras, por mais que alguns ainda tentem dizer que não.

Diante de tal demonstração de força é normal que venha uma pergunta a mente: "afinal quando teremos a nossa greve geral? e como diabos os gregos conseguiram chegar a esse nível de mobilização?"

Comparações são sempre um terreno bem delicado e se vamos fazê-las é de bom tom ter uma visão um pouco mais ampla.

É importante que se saiba que os gregos passaram pelo pão que o capeta amassou até chegar ao nível de radicalização em que se encontram. A taxa de crescimento de suicídios entre os gregos atingiu níveis dos mais assustadores de toda a Europa desde que a crise econômica começou a dar as cartas antes que as soluções coletivas começassem a ganhar as ruas. Enquanto a taxa de desemprego no Brasil segue abaixo de 10%, na Grécia esse índice é de 25%. Entre os mais jovens (15-24 anos) é superior aos 50%. O endividamento grego é de 180% do PIB, já no Brasil esse índice está na casa dos 60%. É esse cenário de caos e falta de perspectiva que empurrou os gregos a acumular tantos quilômetros rodados em greves gerais nos últimos anos. Só entre 2009 e 2014 a Grécia viveu quase 30 greves gerais, 25 delas concentradas no período que vai desde o começo da crise até o ano de 2012.

No Brasil, ao que me vem a cabeça, a última grande greve geral foi em março de 1989. A queda do Collor em 1992 por exemplo não foi acompanhada de nenhuma greve geral. O PT e a CUT poderiam ter convocado, não o fizeram. Preferiram entoar o slogan "Feliz 1994" permitindo que a burguesia prepara-se sua saída da crise política tirando da manga FHC e o plano real.

Em 1995, se poderia ter chamado também uma grande greve seguindo o exemplo da greve petroleira. Quem tinha a maior autoridade para fazê-lo era a CUT que vergonhosamente optou por pedir aos petroleiros que voltassem ao trabalho. A greve foi derrotada com tanques de guerra invadindo as refinarias e os petroleiros amargando uma derrota histórica que permitiu ao governo FHC impor sua agenda de privatizações.

Já não temos uma grande central sindical nem muito menos um grande partido de classe capaz de empalmar o descontentamento crescente de nossa gente. A reorganização política e sindical aberta com a chegada do lulismo à presidência não pariu nenhuma grande alternativa à esquerda que fosse capaz de superar as organizações anteriores. Muito pelo contrário, fomos tomados por um mar de confusão, desmoralização e desmobilização sem fim. Uma grande greve que pare os principais centros de uma país continental como o Brasil exigirá grandes instrumentos e ferramentas de lutas nacionais. E isso quando vivemos uma grande tendência a lutas isoladas em todo território nacional.

Se não temos grandes instrumentos ao menos deveríamos ter a capacidade de construir a unidade na luta. Mas o movimento organizado de uma forma geral vive um estado de desconfiança permanente e uma tremenda incapacidade de agir em frente. Somos incapazes de fazer o debate político das diferenças que nos separam e de inclusive combater as posições do outro sem romper a unidade na ação diante do menor suspiro. Da mesma forma temos sido incapazes de perceber o que de uma forma ou de outra pode nos unir, ainda que momentaneamente.

Os tempos do petismo fizeram muito mal ao movimento organizado brasileiro. Passou da hora de superá-lo.