domingo, 21 de setembro de 2014

As regras da IV Internacional


Em 1938 o texto “A agonia do capitalismo e as tarefas da Quarta Internacional” tornava-se a carta de fundação da Quarta Internacional, um agrupamento de revolucionários de todo mundo disposto a colocar sua militância a serviço da revolução socialista mundial.
 
Uma entre tantas outras passagens marcantes do texto escrito por Leon Trotsky e que ficou conhecido como "Programa de Transição" é o capítulo que versa "Contra o oportunismo e o revisionismo sem princípios".

A conjuntura era de crise econômica mundial aberta a partir de 1929 com a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, vitória do fascismo na Itália e nazismo na Alemanha, guerra civil na Espanha e de preparação para uma segunda guerra imperialista. Do lado dos trabalhadores a III Internacional levava adiante a política derrotista de aliança com a dita "burguesia progressista" na forma da Frente Popular em especial na França e Espanha que desarmou o movimento de massas europeu em um período extremamente crítico. Enquanto isso, boa parte da esquerda não stalinista procurava "atalhos" e"novos caminhos que respondessem aos 'novos desafios'".

Diante desse quadro o programa da IV Internacional dizia: 
"Como sempre, em épocas de reação e de declínio, aparecem em todas as partes mágicos charlatães. Querem revisar toda a marcha do pensamento revolucionário. Em lugar de aprender com o passado, eles o 'corrigem'. Uns descobrem a inconsistência do marxismo, outros proclamam a falência do bolchevismo. Uns fazem recair sobre a doutrina revolucionária a responsabilidade dos erros e dos crimes daqueles que a traíram; outros maldizem a medicina porque não assegura uma cura imediata e miraculosa. Os mais audazes prometem descobrir uma panaceia e, na espera, recomendam parar a luta de classes. Numerosos profetas da nova moral dispõem-se a regenerar o movimento operário com a ajuda de uma homeopática ética. A maioria desses apóstolos conseguiu tornar a si próprios inválidos morais antes mesmo de descer ao campo de batalha. Assim, sob a aparência de novos caminhos só se propõe ao proletariado velhas receitas enterradas há muito tempo nos arquivos do socialismo anterior a Marx."
Já se vão 76 anos desde que essas linhas foram traçadas e sua regra sobre a recorrente aparição de "mágicos charlatães" segue atual. E diante deste mal, Trotsky afirmava a necessidade de declarar guerra implacável a todos os burocratas assim como "ao reformismo sem reformas, ao democratismo aliado à GPU, ao pacifismo sem paz, ao anarquismo a serviço da burguesia, aos 'revolucionários' que temem mortalmente a revolução'. Sem vencer tal praga, seu método e sua moral, que corrói por dentro o movimento operário não haveria como vencer a burguesia, dizia ele:
"Bons são os métodos e os meios que elevam a consciência de classe dos operários, sua confiança em suas próprias forcas, sua disposição à abnegação na luta. Inadmissíveis são os métodos que inspiram nos oprimidos o medo e a docilidade diante dos opressores; sufocam o espirito de protesto e revolta e substituem a vontade das massas pela vontade dos chefes, a persuasão pela pressão, a análise da realidade pela demagogia e a falsificação. Eis por que a socialdemocracia, que prostituiu o marxismo, e o stalinismo, antítese do bolchevismo, são os inimigos mortais da revolução proletária e de sua moral."
Por fim o enunciado das regras da recém nascida IV Internacional:
"Encarar a realidade de frente; não buscar a linha de menor resistência; chamar as coisas pelos seus nomes; falar a verdade às massas, não importa o quão amarga ela seja; não temer os obstáculos; ser verdadeiro nas pequenas coisas como nas grandes; basear seu programa na lógica da luta de classes; ser ousado quando a hora da ação chegar – essas são as regras da Quarta Internacional."
Em épocas como a que vivemos em nosso país, onde a Frente Popular consegue governar 12 anos sem nenhuma grande resistência do movimento de massas, onde uma nova crise econômica mundial mantém-se insolúvel tendo completado seu oitavo ano, onde o fascismo volta a fascinar setores, ainda que minoritários da classe trabalhadora, e onde o marxismo é renegado na prática ainda que reivindicado nas palavras é mais que fundamental retomar, compreender e aplicar o método do programa de transição.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Marina presidente pode ser o grande saldo dos 12 anos de conciliação da Frente Popular petista


Faltam poucos dias para o pleito eleitoral de outubro e, ao passo que vamos, o mais provável é que tenhamos Marina Silva como a próxima presidenta da república. Aécio Neves a cada dia mingua mais e mais e sua tendência é de seguir assim até tornar-se praticamente irrelevante. Já Dilma, carrega consigo o peso de ter administrado seus 4 anos no compasso da crise econômica mundial, acumulando desprestígio tanto no grande empresariado que busca alternativas para seguir com suas taxas exorbitantes de lucro, como com o setor médio da classe trabalhadora à espera de uma ascensão social que simplesmente não veio. A morte de Eduardo Campos e sua martirização pela grande imprensa durante duas semanas seguidas meio que blindou Marina Silva, que com um passe de mágica, tornou-se símbolo de uma "nova política". Muita água ainda há de passar por essa ponte e a candidata peesebista deve ainda apanhar um bocado até o dia 5 de outubro mas a hipótese mais provável até agora segue sendo sua vitória. A se confirmar tal tendência, encerra-se o ciclo de governos frente-populistas brasileiro e retoma-se um novo ciclo de governos burgueses típicos.

Desde o primeiro ano do mandato de Dilma os sinais do esgotamento da etapa de governos petistas já se apresentavam. As revoltas operárias de Suape, Jirau e Pecém em 2011 movimentando mais 50 mil trabalhadores eram a prova de que a camisa de força lulo-petista já não tinha o mesmo efeito que nos dois mandatos anteriores. Já as jornadas de junho de 2013 com mais de um milhão e meio de pessoas nas ruas em todo o país foram a demonstração final de que PT, PCdoB, CUT, UNE e MST não cumprem mais de modo eficiente seu papel de instrumentos de paralisia da luta popular. Por outro lado, a política de terra arrasada no campo das organizações do movimento de massas promovida pelos frente-populistas coloca a burguesia em uma situação privilegiada para retomar as rédeas do governo. Faltava nome de impacto e apelo popular que permitisse isso. Não falta mais.

Marina apesar de ser filha da classe trabalhadora, nem de longe é um "Lula de saia", nem muito menos o PSB e o Rede são similares ao PT. A história do PSB, ainda que se possa tentar resgatar passagens honrosas, não pode ser confundida com a história de um partido que rebentou no calor das greves operárias do final da década de 70 e em plena luta contra o regime militar. O PSB, ainda que leve a palavra "Socialista" em seu nome, é um partido da burguesia. Da sombra da burguesia, diga-se de passagem, mas ainda assim, da burguesia.

Um futuro mandato de Marina não representará um governo em que o movimento operário e popular empresta o peso pesado de seus quadros para salvar o grande empresariado de um momento de crise aberta ou que se avizinha. Este momento, o momento da Frente Popular, vai agora se fechando, após seus 12 anos de conciliação de classes, desorganização e desmoralização do movimento de massas. O grande preço que toda a classe pagará ao final desse período não será qualquer soma relacionada à corrupção ou assistencialismo e sim, a desconstrução de suas principais organizações forjadas no calor de décadas de lutas e greves, além do imenso salto para trás em sua própria consciência enquanto classe. E tudo isso feito em plena luz do dia sem que nenhuma organização se colocasse à altura de dar a efetiva e necessária batalha contra.

A marca do próximo governo burguês, ainda que possa pautar uma ou outra migalha social, será o de ataques aos direitos dos trabalhadores e à já solapada soberania brasileira.

Além disso é preciso considerar que o cenário mundial de crise econômica ainda não está superado. Avizinham-se mais guerras, mais crises e também mais revoluções. Infelizmente o grande vazio posto para o movimento operário segue sendo que a crise de direção revolucionária mundial não só segue como se aprofunda. Desde o Brasil perdemos uma excelente oportunidade para dar passos significativos rumo a sua superação, talvez a melhor das melhores oportunidades, como o argentino Nahuel Moreno localizou ao tratar de governos de Frente Popular. Nossas responsabilidades agora, são ainda maiores.