terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Gaza pelos olhos de crianças

Gaza em quinze desenhos feitos por crianças de Gaza. As figuras fazem parte de uma exposição organizada pela "Aliança do Oriente Médio pela Infância" e que deveriam ter sido apresentadas em Oakland, nos Estados Unidos, no final deste ano. Deveriam, mas a exposição foi estranhamente cancelada. Por que será?
















Imagens obtidas do portal PalestinaLibre.org

2012 vem aí. Que a primavera continue... (charge by @carloslatuff)

Carlos Latuff

domingo, 25 de dezembro de 2011

Vereador @joaoalfredodopsol, o III congresso do PSOL e os caminhos da esquerda socialista

Não sou do PSOL nem eleitor do vereador João Alfredo mas quero deixar registrado meus parabéns pela intervenção feita por ele no III Congresso do seu partido que está publicada no YouTube. Devo admitir que acho absolutamente nonsense o discurso do "Ecosocialismo" mas para um "ecosocialista" coerente não há outro caminho sensato que não o de defender a independência de classe. João Alfredo fez isso ao lado de Camila Valadão que defendeu a sempre essencial e inadiável luta contra o machismo. Então antes de mais nada, parabéns João.



Mas para além dos desacordos com o discurso do ecosocialismo ou dos acordos com a independência de classes é preciso saber ouvir as palavras do vereador e enxergar por trás delas o debate profundo que carregam. O que está registrado no video é o debate de para onde tem ido a esquerda brasileira, em especial aquela que ao menos se diz revolucionária e socialista.

Partidos voltados para garantir vitórias eleitorais, sejam elas de parlamentares ou de diretorias de sindicatos, correm permanentemente sobre o fio da navalha de serem soterrados pelo sistema, seja de forma intencional ou "inocente". E o caminho da esquerda brasileira tem sido tragicamente este, o de ser engolidos pela "democracia" e seus limites, deixando o debate da estratégia socialista e suas ferramentas necessárias para "depois do carnaval".

Para quem não sabe, lá pelos idos de 2003, setores da esquerda do PT foram expulsos por terem sido contra a reforma da previdência do governo Lula. Naquele momento uma oportunidade se abriu para unir os setores de esquerda em uma organização capaz de enfrentar com a força necessária, ou pelo menos um pouco maior, o governo de Frente Popular de Lula, explicando pacientemente ao povo pobre e trabalhador que o ex-metalúrgico governava e seguiria governando para os ricos. Optou-se por um novo partido, o PSOL, com ex-militantes da esquerda do PT e ex-militantes do PSTU que uniram-se em torno da candidatura de Heloisa Helena. Praticamente se reeditou a tese do "Feliz 1994", quando o PT deixou Itamar governar de olho nas eleições. E infelizmente a possibilidade do debate estratégico foi jogada muito para frente.

Em 2006 outra oportunidade se abriu forçada pelo calendário eleitoral e a aliança eleitoral entre partidos como PSOL, PSTU e PCB ao redor de Heloisa Helena foi forjada. Mas ao invés de permitir que o debate estratégico sobre o socialismo fosse feito com a profundidade, a franqueza e a dureza necessárias, a aliança mostrou-se mais como eleitoreira que eleitoral. Lula venceu, muito pouco se elegeu, nada ou quase nada se fortaleceu nas posições de esquerda e cada um seguiu seu caminho sem nem sequer fazer o esforço necessário para se discutir o passado recente, muito menos o futuro que já se mostrava presente. Honestamete, teria sido muito melhor que tivessem marchado sozinhos afirmando suas identidades e programas.

Em 2010 uma terceira vaga se abriu. Primeiro pela possibilidade do chamado Congresso da Classe Trabalhadora e em seguida pelo debate eleitoral. Foi desperdiçada mais uma e outra vez. E enquanto cada um apontava para a trave no olho do outro, Lula concluiu seu mandato como o grande salvador da pátria e entregou a faixa presidencial à Dilma para que seguisse seu legado de governar para os ricos.

Agora, a crise econômica está aí se espalha com toda sua força mundo afora e podem ter certeza que chegará ao Brasil. As novas reformas neoliberais virão, assim como já estão aí Belo Monte; o assassinato de lideranças camponesas e indígenas; a precarização do trabalho com cara de modernidade e o achatamento salarial com todo jeitão de melhoria de vida. Enquanto isso, mais um partido direitoso de pseudo-esquerda começa a nascer e a classe trabalhadora brasileira segue carente de uma alternativa revolucionária e socialista à altura dos seus desafios e capaz de entender e empalmar seus anseios, os transformando em um programa capaz de envolver mentes e corações.

Que pena!

sábado, 24 de dezembro de 2011

Mais R$ 2,50 por dia garantido aos assalariados. Uaauuuu!


Dois mil e doze se aproxima e com ele o novo salário mínimo brasileiro também. E a imprensa é claro faz todo coro com a grande rede varejista sedenta por mais e mais prestações da classe trabalhadora alardeando o incremento no poder de consumo dos assalariados. São 14,13% de aumento. U-aauuuu!!!!

Catorze porcento com certeza não é um valor qualquer. Quantas categorias não vão a luta para conseguir algo um pouco maior que a inflação? Oito, nove, dez por cento é sempre celebrado como grande vitória. E 14 então? Que maravilha hein?

Bem... como já dissemos antes 14 % em cima de muito pouco é quase nada. Ainda mais quando comparado ao que está "na lei". Segundo o DIEESE o mínimo deveria em novembro de 2011 ser de R$ 2.349,26. E isso pra ser MÍNIMO. Enquanto isso o povo todo celebra e comemora os R$ 622,00 ou R$ 77,00 acima dos atuais R$ 545,00. Agora faça as contas: 77 dividido por 30 dá aproximadamente R$ 2,50  a mais por dia. E aí? Tá muito bão não tá não? Já dá pra pagar a passagem do ônibus que você tanto reclamava. Tá bom que é só a de ida mas isso é só um mero detalhe. Não é mesmo?

Eu sou a voz revolucionária (*)

Eu sou a voz revolucionária
Eu sou o naufrágio do desespero
Eu sou o momento da luta
Eu sou a decisão de revolta
Eu sou o desejo de se rebelar
Eu sou a energia da multidão
Eu sou a esperança nos olhos das crianças
Eu sou a força de vontade para destruir a opressão
Eu sou a derradeira fuga da depressão

(*) Tradução de I Am the Revolutionary Voice do Coletivo de Artistas Poetas.

E eis o espírito do Natal (by Banksy)

Banksy

A conclusão de Pedro


Pedro é vigilante no Hospital de Messejana já faz dois anos. De tanto entra e sai de pessoas com problemas cardíacos e pulmonares virou quase um especialista em males do coração e do pulmão. No mínimo, um especialista em contar histórias e em tranquilizar os que com ele conversam: "A gente vê tanta coisa que acaba se acostumando até mesmo com a morte. Tem gente que quando chega aqui fica abalado quando vê uma pessoa sair morta. Quem trabalha aqui não se abala mais não". Entre tantas histórias, a que conta com mais propriedade é obviamente a sua própria.

Muito antes de ser vigilante, Pedro foi operário da Fábrica Fortaleza. Aos vinte e cinco anos era acostumado a carregar sacos de açúcar de 50, 60 quilos nos ombros. Um belo dia ao pegar mais um desses sacos sentiu uma dor terrível logo abaixo das costelas. Somada a essa dor repentina veio logo em seguida o sangue ao tentar urinar. Encaminhado ao hospital, o clínico geral passou a vista em seu exame de sangue, deu uma pancada na região da dor e logo em seguida acusou: "vamos ter que operar". Pra felicidade de Pedro, sua irmã não permitiu. Foram a um médico particular que após uma bateria de exames diagnosticou pedras nos rins. Por pouco, Pedro não entrou na faca e quem sabe até não teve a bexiga substituída por um saco coletor de urina. Apesar do respeito pelos médicos do Hospital onde trabalha, Pedro não pensa duas vezes ao explicar o que aconteceu: "ele só queria comer o dinheiro da cirurgia".

Não necessariamente a conclusão de Pedro está correta mas no fundo, errada, errada, não está. As pessoas se movem por dinheiro e não há juramento de hipócrates que resista ao cotidiano violento dos trabalhadores da saúde em uma sociedade regida pelo capital. Não há saída "humanizadora" que dê jeito enquanto a saúde seguir sendo tratada como mercadoria. E no capitalismo tudo, absolutamente tudo, é mercadoria.

domingo, 18 de dezembro de 2011

"Dividir o pão" (arte)

Arte do coletivo de artistas ativistas do The Activists mostrando
um pão e muitas mãos egícpcias. Original aqui.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Nós somos rebelião (*)

Nós somos rebelião, nós somos a energia da multidão, a esperança das massas, a luta do povo.

Nós somos o desejo de enfraquecer, de ultrapassar, para instigar a revolução em cada alma.

Nós somos o poder do coletivo, subindo a partir da morte de dormência política.

Nós somos o futuro da humanidade, a capacidade de superar, para devorar os inimigos da luta social.

Nós somos a retaliação psicológica contra a capitalização dos instintos humanos.

Nós somos o movimento que nunca dorme, as vozes que nunca se calam, o murmúrio à distância.

Nós somos um exército de mentes, a vida que permanece na sombra, o sangue da psique coletiva, fluindo, circulando, preparando-se.

Nós estamos chegando.

(*) Tradução de We Are Rebelion do coletivo de escritores ativistas.

sábado, 10 de dezembro de 2011

As revoluções são as festas dos oprimidos e explorados (Lenin)


Vladimir Ilich Ulianov Lenin cunhou essa frase em julho de 1905 na brochura Duas Táticas da Social-Democracia na Revolução Democrática que mais que relembrada merece ser revitalizada à luz dos levantes populares que correram o mundo em 2011 e que não deixarão de correr em 2012. Segue trecho do capítulo final em que a frase aparece:
As revoluções são as locomotivas da história, dizia Marx. As revoluções são a festa dos oprimidos e explorados. Nunca a massa do povo é capaz de ser um criador tão activo do novo regime social como em tempo de revolução. Em tais períodos o povo é capaz de fazer milagres, do ponto de vista da medida estreita e pequeno-burguesa do progresso gradual. Mas em tais períodos é necessário que também os dirigentes dos partidos revolucionários apresentem as suas tarefas de um modo mais amplo e audaz, que as suas palavras de ordem vão sempre à frente da iniciativa revolucionária das massas, servindo de farol para elas, mostrando em toda a sua grandeza, em toda a sua beleza, o nosso ideal democrático e socialista, mostrando a via mais curta e mais directa para a vitória completa, incondicional e decisiva.
Que falta faz para a humanidade a audácia e a presença de homens como Lênin e de organizações como a que ele tanto defendeu e construiu.

Considerações sobre "A pornografia é uma das armas mais potentes nas mãos do Estado e das elites dominantes"

Arte de Guilherme Lepca
Recebi a recomendação no twitter via @ActivismTips para seguir a conta @The_Activists de um grupo de artistas, escritores, fotógrafos, blogueiros, poetas e ilustradores dedicados a criar informação revolucionária, como eles mesmos dizem em seu blog, o The Activists. Um de seus artigos que logo me chamou a atenção foi o "Pornography Is One of the Most Potent Weapons in the Hands of the State and the Ruling Elites", cuja tradução postei aqui no blog.

O texto chama a atenção para o quanto o macho médio estadunidense tem dedicado boa parte do seu tempo ao consumo da pornografia produzida por grandes empresas profissionais de mídia. São em média 300 horas por ano dedicadas a se deixar consumir pela imensa máquina pornográfica que movimenta uma verdadeira fortuna e ao mesmo tempo alimenta um monstro social que se auto-isola ao invés de buscar relações afetivas reais ainda que cheia de frustrações e decepções. O texto chega a comparar os consumidores como "vítimas de um sonho de Pygmalion", o artista mitológico grego que esculpia imagens de mulheres e por elas se apaixonava. A comparação é um pouco descabida na medida em que as vítimas da pornografia não se relacionam com o fruto de sua própria produção mas com as fantasias produzidas pela grande indústria pornográfica.

O ponto de vista do coletivo de escritores ativistas é interessante mas merece uma reflexão menos superficial. Qual a diferença entre o prazer enlatado via tela de TV ou computador e o prazer nas páginas de revistas masculinas ou via brinquedos sexuais? Por que o prazer obtido via pornografia causaria mais espanto do que o obtido via prostituição? Ou estaria o pagar pelo sexo entre as "relações humanas autênticas"? No fim das contas o que de fato é autêntico e o que não é entre tantas relações humanas, sejam elas "poliamor" ou monogâmicas, em especial em uma sociedade que prima e estimula a corrida pela satisfação pessoal a qualquer custo? Será autêntica a sede por satisfazer vontades, desejos e taras, sejam com objetos, sejam com outras pessoas, ou isso também não é fruto de um verdadeiro mecanismo de escravidão moderna?

Mas no fim das contas devo concordar com as conclusões dos autores: "Os capitalistas querem controlar todos os aspectos da vida do trabalhador, seu entretenimento, suas visões, suas aspirações e sua sexualidade também"... "querem controlar todos os aspectos da nossa existência, porque eles entendem que, se abrirmos nossos olhos, em qualquer sentido real, então, seus dias estarão contados."

"A pornografia é uma das armas mais potentes nas mãos do Estado e das elites dominantes"(*)

"Existem muitas pessoas que enxergam a pornografia como uma expressão inofensiva da sexualidade humana. São muitos os homens que assistem a pornografia como uma mera atividade de lazer. Este tipo de perspectiva é absolutamente delirante e totalmente irresponsável.

Primeiro de tudo, a pornografia é uma indústria altamente regulada. É regulada por um Estado opressivo para esvaziar a energia emocional e psicológica em milhões de pessoas. O macho médio nos Estados Unidos dedica incontáveis ​​horas de pornografia a cada semana, as estimativas variam de 3,2 a 5,1 horas. Isso se torna ainda mais problemático quando você considera o fato de que a pornografia é uma forma muito complexa de consumo.

Quando você assiste a pornografia o que você está essencialmente assistindo é uma máquina que ordenha sua sexualidade. Quando você focaliza seus olhos sobre a imagem na tela, o que você está essencialmente fazendo é tendo relações sexuais com a máquina. Quando você dedica toda a sua atenção sexual e emocional para a tela, o que essencialmente você está fazendo é tornando-se um com a tela, adorando a visão corporativa da sexualidade humana. Isto é muito perigoso, porque lhe isola completamente e lhe torna mais uma vítima de um sonho de Pygmalion. A pornografia é uma falsa consciência em seu mais alto nível. É verdade de que na vida real você pode ser rejeitado ou magoado, mas pelo menos você estabelece relações humanas autênticas. No mundo da pornografia sua sexualidade é apenas sugada para fora de você, assim você pode voltar ao trabalho, como um bom escravo eficiente.

Não há nada de puritano nestes argumentos. Acredito que a sexualidade humana deve ser livre e aberta, não tenho qualquer problema com a masturbação, relações poliamor ou experimentação física. Mas tenho um problema com a idéia de que nós, como seres humanos estamos entregando nosso corpo e alma para a máquina pornográfica. Tenho um problema com a noção de que o Estado e as elites dominantes está criando armadilhas psicológicas que destroem e distorcem as visões dos seres humanos.

Agora imagine um mundo no qual os homens não assistem pornografia. Um mundo no qual a nossa energia é canalizada para os fluxos criativos, em relacionamentos saudáveis, em valores comuns, em vez de ver a nossa essência em um derramamento programado e orientado pela tela.

Imagine um mundo em que os homens não gastam 300 horas por ano, olhando para uma tela, desejando mulheres, esperando que esta falsa cyber-sexualidade possa se tornar realidade.

Também considere o fato de que 95% da pornografia é produzida por empresas profissionais de mídia. Assim, ao observar esta visão corporativa da sexualidade humana, você está se entregando à máquina corporativa. Parece absurdo, mas não há nada de absurdo nisso. Os capitalistas querem controlar todos os aspectos da vida do trabalhador, seu entretenimento, suas visões, suas aspirações e sua sexualidade também.

Os capitalistas querem controlar todos os aspectos da nossa existência, porque eles entendem que, se abrirmos nossos olhos, em qualquer sentido real, então, seus dias estão contados."


(*) Traduzido de "Pornography Is One of the Most Potent Weapons in the Hands of the State and the Ruling Elites" postado no blog The Activists

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Que energia limpa é essa? #pareBeloMonte

Mais um video do movimento Gota D'Água aqui no blog. Esse feito com estudantes e professores da UFPA além de alguns convidados, todos moradores de Altamira. O vide chama-se "Pimenta nos olhos dos outros é refresco" e o motivo do tíutlo deste post é parte do texto do video onde um dos participantes do video pergunta: "Que energia limpa é essa, que mata lideranças locais, desapropria agricultores e não respeita a cultura local?"

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O sonho acabou... (John Lennon)

Em 11 de dezembro de 1970, John Lennon lançou seu primeiro álbum pós Beatles, o John Lennon/Plastic Ono Band, com 11 faixas e entre elas umas das mais emblemáticas: GOD. Na canção Lennon deixa claro com todas as letras que os Beatles eram coisa do passado e que o sonho havia acabado. A música é um verdadeiro credo às avessas, onde o ex-beatle lista todos os ídolos em que não crê começando com o deus judaico-cristão e terminando com sua própria ex-banda.

A música é um verdadeiro virar de página, uma auto-afirmação mais que necessária e inspiração àqueles que precisam deixar o passado no seu devido lugar. Aperte o play e curta o som.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

"Companheiro": um mero pronome de tratamento?


Por mais incrível que possa parecer, a palavra "companheiro" já teve um significado mais profundo do que a de um mero pronome de tratamento. Digo "incrível" pois em especial em nosso Brasil brasileiro, onde até Bush já foi chamado de "companheiro" pelo ex-presidente metalúrgico, parece no mínimo insólito crer que haja algo mais profundo escondido nessas onze letras.

Já em seus tempos de sindicalismo "radical" o Partido dos Trabalhadores "radicalizava" tanto o uso do título "companheiro" para se referir a todo e qualquer ativista e sindicalista (as vezes mesmo sendo ele um ultra-pelego de carteirinha) que o sentido da palavra mais se aproximava de uma forma diferente de chamar as pessoas, tal como "meu chapa", "meu patrão", "meu querido" ou qualquer outra coisa do gênero. Virou um jargão no meio de tantos outros. Mas foi na esfera palaciana do poder que Lula e seus partidários deram o significado tão almejado ao "companheirismo". Todo e qualquer empresário governista passou a receber a alcunha de companheiro esvaziando o mínimo caráter de distinção de classe que carregasse o termo.

Mas nem sempre foi assim.

A palavra companheiro tem sua origem no latim. Vem de "cum" + "panis", ou "com" + "pão", retratando a relação entre pessoas que dividiam o mesmo pão. Tratavam-se por "companios" os escravos da antiga Roma, aqueles despossuídos de quaisquer direitos, bens e propriedades, e ainda assim capazes de dividir o parco pão que produziam com seu próprio suor. A palavra encerra em si, um profundo significado moral relacionado com laços de confiança. Isso porque não se divide o pouco pão que se tem à mesa com aquele que é capaz de lhe atraiçoar ao primeiro virar de costas. Muito diferente não?

Mas seria injusto atribuir a tão somente o PT o papel de deformador do significado do companheirismo antes tão caro em especial à esquerda revolucionária. Quantos sindicalistas não petistas chamam os trabalhadores de sua base de companheiros mas nos escritórios patronais acertam os detalhes sórdidos de acordos que vendem os direitos de sua categoria? Quantos ainda ensaiam greves, se colocando inclusive à frente delas para em seguida utilizar do prestígio alcançado e encerra-la com golpe certeiro? Quantos militantes de esquerda, partidária ou não, já deixaram de se sentir verdadeiramente confortáveis em suas organizações, vítimas de interesses dos mais mesquinhos, de conluios, conchavos, assédios, intimidações e tantas outras traições?

É realmente uma pena que a recente história da luta de classes tenha vitimado o profundo sentimento de confiança necessário para todo aquele que sonha e luta por um mundo melhor.

Mas um dia, quem sabe, a palavra "companheiro" deixará de ser um mero pronome de tratamento.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Mapa mundial do desemprego


O Estadão publicou em seu portal um mapa interativo que mostra os índices de desemprego total e entre jovens em 13 países e na União Européia. Entre os "mapeados" estão os sete principais países da Europa Ocidental, Estados Unidos, Brasil, Argentina, Japão e Austrália. Não constam na pesquisa importantes países como Canadá, México, Grécia, Rússia e China, que precisam igualmente ser acompanhados.

Chama a atenção o alto índice de desemprego entre jovens que na Espanha atinge o impressionante número de 48,9%. Muito interessante seria comparar o epicentro das lutas sociais que correm o mundo com esses índices para a partir daí confirmar a correlação entre desemprego e levante social. Obviamente que a comparação seria incompleta se não fosse acompanhado de uma perspectiva histórica. Explico: Um país que possui um índice histórico de 9% de desemprego, atingir os 10%, tem uma reação completamente distinta de um que dos 5% pula pros 10.

Outra comparação interessante é a feita a partir dos dados a partir do desemprego total. Essa visão é bem mais reveladora na medida em que é muito mais explosivo, do ponto de vista social, um pai ou mãe de família perder um emprego do que um jovem que está ainda a procura do seu primeiro vínculo empregatício. Vejamos então como fica a comparação:


Olhando deste ponto de vista é possível perceber que o índice de desemprego brasileiro segue um dos mais baixos entre os "mapeados" pelo Estadão, praticamente um "índice belga", digamos assim. Esse dado é importante porque dá uma noção do fôlego do governo Dilma diante da insatisfação popular. Itália, EUA, França, Portugal, Irlanda e Espanha vivem índices superiores aos 8% de desemprego. No caso da Europa existe um estado de bem-estar social ainda não completamente desmantelado e que serve de contenção de uma verdadeira guerra civil no velho continente. Já o caso dos Estados Unidos é preciso acompanhar com muita calma. Não existem lá as mesmas condições que seguram os trabalhadores europeus. E se a classe trabalhadora estadunidense se levantar as conseqüências do ponto de vista da "paz social" são praticamente incalculáveis. Não vai ter gás de pimenta que dê jeito. :)