quarta-feira, 28 de agosto de 2013

"Mais médicos" é um programa escravocrata?


O programa "Mais médicos" do governo Dilma merece críticas e muitas. Mas as que a grande mídia faz e que são reproduzidas pelo grande senso comum merecem críticas ainda maiores que o próprio programa do governo. Um dos argumentos que primeira chama atenção e que precisa ser colocado devidamente em seu lugar é a de que os cubanos vêm ao Brasil para trabalhar em regime análogo à escravidão.

Talvez seja difícil para um brasileiro entender como um médico pode viver no interior do país com 2500 a 4000 reais, deixar 3000 reais com o governo cubano e outros 3000 a 4500 com a família que ficou em Cuba. Podemos discutir se concordamos ou não com esse modelo de remuneração mas se chamamos isso de escravidão então precisamos definir o que não é escravidão.

Por acaso o que remete à ideia de escravidão é o valor nominal de 2500 a 4000 reais? Até entendo que um médico brasileiro se negue a viver com um valor como esse mas é bom que se lembre que o salário mínimo brasileiro é R$ 678,00 e não são poucos os que vivem do mínimo. Por acaso isso é escravidão? Não, não é! É injusto e miserável mas não é escravidão, nem mesmo semi-escravidão.

O problema seria então pelo fato dos cubanos trabalharem no serviço público sem concurso público e recebendo bolsa ao invés de salário formal? Isso é que é trabalho escravo? A terceirização então é o que? Não são poucos os trabalhadores que trabalham no serviço público como terceirizados e que recebem seus vencimentos por meio de uma cooperativa ou outra empresa que por sua vez ficam com boa parte do dinheiro pago pelos serviços prestados por esses trabalhadores. Terceirização é escravidão? Não, não é! É um instrumento de opressão e super-exploração que não garante direitos iguais para trabalhadores e que precisa ser combatido, mas escravidão não é.

Seria o problema o fato de mais da metade da bolsa paga pelo governo brasileiro não ficar diretamente com o médico? É isso? Bem... brasileiros vivem ilegalmente nos Estados Unidos fazendo serviços os mais diversos e nas relações mais precárias e imagináveis o possível e repassam a maior parte do que ganham para suas famílias ficando somente com o suficiente para sobreviver no país do Tio Sam. Isso é escravidão? Não, não é. É aviltante e revoltante mas não é escravidão.

Então qual é o problema? Seria porque são cubanos e vivem em um país onde não existe a cultura da acumulação pessoal até porque a saúde é pública, o transporte é público, a educação é pública e ser médico não é o sinônimo de ser rico? Seria isso? Nem discuto se Cuba é comunista (que não é por mais que tanto Fidel como a direita raivosa e parte da esquerda digam que é). Isso honestamente não vem ao caso, ou pelo menos não deveria vir. A questão é saber se o trabalho dos cubanos no país se constitui em trabalho escravo por, por exemplo, serem de Cuba. E a resposta é que é claro que isso não é escravidão.

Pode-se discutir que o programa Mais Médicos é eleitoreiro e não resolve o problema da saúde pública no país. Isso sim, faz sentido e precisa ser muito discutido. Mas todo o resto não passa de um discurso irracional e preconceituoso. No fim das contas a única coisa que nos remete à escravidão no argumento de trabalho escravo dos médicos cubanos é a mentalidade escravocrata de quem o utiliza.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

A cara de médico dos cubanos, a cara de domésticos dos negros e negras e a cara de pau da classe média brasileira


A jornalista potiguar Micheline Borges não se aguentou em si mesma e deixou escapar o sentimento tão reprimido sobre a imensa resistência em receber médicos cubanos no país. Comentou como quem não queria nada em sua conta de Facebook:
"Me perdoem se for preconceito, mas essas médicas cubanas têm uma cara de empregada doméstica. Será que são médicas mesmo? Afe, que terrível. Médico, geralmente, tem postura, tem cara de médico, se impõe a partir da aparência. Coitada da nossa população. Será que eles entendem de dengue? E febre amarela? Deus proteja O nosso povo!"
É preciso parabenizar Micheline. Dificilmente em uma única postagem uma pessoa comum conseguiria expressar tão bem o monstruoso preconceito tão enraizado em especial em nossa "querida" classe média. A primeira pergunta já dá o tom do que está por vir: "Me perdoem se for preconceito". Ninguém que não vá se lambuzar no lixo de qualquer manifestação preconceituosa começaria uma frase assim. Inconscientemente ou não, Micheline já sabia que o que estava por dizer seria tido como errado. Não que ela considerasse errado. Mas no mínimo ela sentia que estava por cometer um delito que para ela era incontrolável.

"Essas médicas cubanas tem uma cara de empregada doméstica"! Pronto! Tá falado e é isso mesmo: As tais médicas importadas são a cara da dependência de empregada! E como isso poderia ser possível? Estamos importando médicos e trazemos logo essas "neguinhas" sem graça. Que coisa mais desqualificada, não é mesmo? Ao menos fossem brancos, loiros, altos e de olhos claros, meio assim sabe, com "cara de médico".

Fico imaginando o quanto escrever essa simples frase deve ter proporcionado um alívio quase que imediato à jornalista, meio como quem tira uma verdadeiro peso das costas.

Agora me digam vocês se essa não é uma verdadeira pérola da mais fina flor do preconceito. Em uma única postagem é possível captar racismo, xenofobia, machismo e em especial o preconceito contra a pobreza No Brasil lugar de mulher negra não pode ser em hipótese alguma em consultórios e hospitais. Seu lugar é na cozinha, servindo e limpando a sujeira da branqueza real.

Não são poucos os que pensam assim. Verdade seja dita, essa ideologia escravocrata não é um privilégio de Micheline. Tanto é assim que no nosso bom Ceará, terra da luz, o primeiro estado a ter um de seu municípios a abolir a escravidão, os primeiros médicos cubanos foram escrachados em um corredor polonês aos gritos de "escravo, escravo" e "voltem para a senzala". "Escravos" por receber uma bolsa de 10 mil reais em que 3 mil ficarão com o governo cubano e outros 2 mil serão encaminhados para as famílias dos médicos. "Voltem para a senzala" porque são negros e lugar de negro em nosso bom Brasil brasileiro, para nossa "querida" classe média ainda é na senzala.

Mas Micheline tanto quanto os médicos racistas cearenses que se deram ao desserviço de achincalhar os cubanos tiveram a ousadia de dar corpo e voz ao preconceito de nossa classe média. Se os cubanos não tem cara de médicos e sim de empregados domésticos por serem negros, Micheline e os tais médicos tem muita cara de pau de manifestar todo seu ódio de classe.

Particularmente nós temos muito a agradecer a eles por se exibirem de forma tão escancarada. Só assim temos como exigir que sejam devidamente processados e presos por terem cometido crime inafiançável. Cadeia neles!

domingo, 25 de agosto de 2013

Minidocumentário "La surconsommation" mostra uma das muitas faces doentias do consumo excessivo moderno.


"La surconsommation" (o consumo excessivo) é um minidocumentário francês de pouco mais de seis minutos de imagens sem uma única palavra para ser ouvida ou mesmo lida. Imagens que saem da grande rede mundial de abatedouros de frangos, produtores de leite, criadores de carnes bovina e suína, passando pela redes de supermecardos, fast-foods, praças de alimentação e concluindo nos consultórios médicos especializados em tratamento de obesidade. De forma muito inteligente o filme mostra uma cadeia produtiva que começa e termina na faca.

Essa é só uma das muitas faces doentias do superconsumo moderno. Poderíamos ainda falar da produção de televisores, aparelhos celulares, computadores, video-games, brinquedos, sapatos, roupas, motos, carros, remédios e uma lista sem fim de mais e mais falsas necessidades empurradas na vida das pessoas, ou goela a dentro para fazer uma referência ao minidocumentário. Esse não é um problema da forma como individualmente tratamos os animais, a natureza ou mesmo o planeta. Nada disso.

O consumismo é fruto de uma sociedade doentia baseada na fome não de comida ou de bens de consumo mas de dinheiro, de lucro, de capital. É o capital que perpassa por toda a cadeia produtiva, alienando, escravizando, adoecendo e matando tudo o que transforma em mão de obra ou mesmo em matéria prima para novas mercadorias. Inclua-se aí nas "novas mercadorias" inclusive os próprios seres humanos, que em "La surconsommation" tornam-se a própria natureza a ser transformada à base do bisturi.

E a produção de capital apesar de violenta é tão sutil que por vezes podemos crer que o grande problema é o egoísmo e a mesquinharia das pessoas que só pensam em comer e comer sem parar para pensar de onde vem aquilo que comem. Nada mais falso. Aquilo que não vemos mas que está bem na frente de nossos olhos é o egoísmo e a mesquinharia das pessoas que só pensam em engordar não seus estômagos mas suas contas-bancárias à custa da superprodução de mercadorias, da super-exploração de trabalhadores de toda a cadeia produtiva e do superconsumo dos que são tangidos aos fast-foods tal como o gado que marcha para os campos de engorda. Eis o X da questão.

Vale assistir e refletir sobre o assunto.


La surconsommation from Lasurconsommation on Vimeo.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O dedo sujo do maleducado secretário de educação de Fortaleza e a sujeira sem fim dos Ferreira Gomes #ForaIvoGomes


O secretário municipal de Educação de Fortaleza teclou ofensas a mais do que devia com a militância da redes sociais. Ivo Gomes é irmão do atual governador do Ceará, Cid Gomes, e do ex-prefeito, ex-ministro, ex-presidenciável e execrável Ciro Ferreira Gomes. Pelo jeito a forma ruim de um é exatamente a mesma a de todo o clã e honestamente é muita sujeira pra uma famíla só. Aos impropérios ditos por Ciro ao longo de sua carreira política e às impobridades feitas por Cid em 6 anos e meio de governo somam-se agora às grosserias de seu irmão Ivo que na última segunda-feira, dia 19, levou adiante um bate-boca virtual através do Facebook com o internauta Renato Yuri.

Não é a primeira vez que o destemperado secretário arma o barraco virtual com internautas mas é a primeira vez que desce ao nível que desceu. Como resposta à provocação de Yuri que chamou o governador de "Cidoca Dondoca", Ivo Gomes disparou um "enfie o dedo no cu e rasgue, marginal". Exatamente isso. Na sequência chamou o internauta de "marginal", "aprendiz de bandido", "meio tapadim" e pra fechar a conta da obra mandou um "vá dá o cuzim pro João Alfredo"

Obviamente as diabruras do maleducado secretário de educação não poderiam passar em branco para qualquer prefeito. E Roberto Cláudio veio a público comentar o ocorrido. Só que como bom capacho da família real, ao invés de repreender, defendeu seu secretário. É sem dúvida a apoteose da submissão. Chamar de "firmes e contundentes" as porcarias tecladas pelos dedos sujos de Ivo Gomes é no mínimo uma piada de altíssimo mau-gosto.

Um amigo de Maceió me chamou atenção para o fato de que por muito, mas muito menos mesmo, o secretário de educação da capital alagoana, Adriano Soares Costa, deixou o cargo no último dia 12 de julho. Na noite do dia 11 o secretário postou um famoso video da apresentadora Eliana em sua conta no Facebook como forma de sugestão aos manifestantes alagoanos para que fossem "tomar no cu". Arrependido, apagou a mensagem e em seu lugar postou um pedido público de desculpas. No dia seguinte, entregou o cargo. Já foi tarde. Mas sua atitude ao menos nesse momento foi a de um "homem público". O mesmo não se pode dizer dos Ferreira Gomes.

O pedido de desculpas em nosso caso já não cabe mais. A permanência de Ivo Gomes na secretária de educação de Fortaleza é a verdadeira ofensa a todo o povo de Fortaleza. Seu afastamento é mais que necessário. É uma obrigação. 

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Leon Trotsky: Presente! Até o socialismo: Sempre!


Em 21 de agosto de 1940 morreu Lev Davidovich Bronstein, o homem cujas ideias e pseudônimo, Leon Trotsky, fizeram a seu tempo e de grande maneira fazem ainda hoje, 73 anos depois, estremecer de horror e ódio o coração de muitos poderosos. Foi assassinado por Ramon Mercader, um agente provocador que fingiu-se de namorado de sua secretária pessoal para aproximar-se, espionar e se possível matar o revolucionário russo. O atentado foi feito com um golpe de picareta de alpinista na cabeça do homem de então 60 anos. Ainda que ferido de morte gritou a seus seguidores que não matassem o assassino para que assim ele pudesse tornar pública a mente criminosa por trás daquilo: o carniceiro Iosef Stalin. Chegou ao hospital ainda lúcido mas logo entrou em coma vindo a morrer no dia seguinte.

Muito antes do golpe que arrancou-lhe a vida, Trotsky tinha consciência que seus dias estariam contados. Mais cedo ou mais tarde morreria. Ainda naquele ano, em fevereiro, acometido de problemas de saúde escreveu um texto que ficou conhecido como seu testamento onde professa seu amor à causa da revolução socialista que abraçara ainda aos 18 anos, à sua esposa Natasha ("fonte inesgotável de amor, magnanimidade e ternura") e à própria vida.

Rendemos aqui nossa homenagem ao velho Leon. Que estejamos à altura de livrar o mundo de todo mal, toda opressão e toda violência tal como nos propõe seu testamento.

Leon Trotsky! Presente! Até o socialismo! Sempre!

"Minha pressão sangüínea elevada (e que continua a elevar-se) engana àqueles que me são próximos sobre minhas reais condições físicas. Estou ativo e capaz de trabalhar, mas o fim está evidentemente próximo. Estas linhas serão tornadas públicas após minha morte.

Não preciso mais uma vez refutar aqui a calúnia vil de Stalin e seus agentes: não há uma só mancha sobre minha honra revolucionária. Não entrei, nem direta nem indiretamente, em nenhum acordo, ou mesmo em nenhuma negociação de bastidores, com os inimigos da classe operária. Milhares de adversários de Stálin tombaram, vítimas de falsas acusações. As novas gerações revolucionárias reabilitarão sua honra política e tratarão seus carrascos do Kremlim como eles merecem.

Agradeço ardentemente aos amigos que se mantiveram leais através das horas mais difíceis de minha vida. Não cito nenhum em particular, porque não os posso citar todos.

Apesar disso, considero-me no direito de fazer exceção para o caso de minha companheira, Natália Ivanovna Sedova. Além da felicidade de ser um combatente da causa do socialismo, quis a sorte me reservar a felicidade de ser seu esposo. Durante quarenta anos de vida comum, ela permaneceu uma fonte inesgotável de amor, magnanimidade e ternura. Sofreu grandes dores, principalmente no último período de nossas vidas. Encontro algum conforto no fato de que ela conheceu também dias de felicidade.

Nos quarenta e três anos de minha vida consciente, permaneci um revolucionário; durante quarenta e dois destes, combati sob a bandeira do marxismo. Se tivesse que recomeçar, procuraria evidentemente evitar este ou aquele erro, mas o curso principal de minha vida permaneceria imutável. Morro revolucionário proletário, marxista, partidário do materialismo dialético e, por conseqüência, ateu irredutível. Minha fé no futuro comunista da humanidade não é menos ardente; em verdade, ela é hoje mais firme do que o foi nos dias de minha juventude.

Natascha acabou de chegar pelo pátio até a janela e abriu-a completamente para que o ar possa entrar mais livremente em meu quarto. Posso ver a larga faixa de verde sob o muro, sobre ele o claro céu azul, e por todos os lados, a luz solar. A vida é bela, que as gerações futuras a limpem de todo ó mal, de toda opressão, de toda violência e possam gozá-lá plenamente."

O que é o proletariado e a classe trabalhadora hoje? Ricardo Antunes explica.


Um dos temas que ganhou grande importância desde a queda do muro de Berlim até a nova definição de classe média dos governos petistas é a definição do que é a classe trabalhadora e o que é o proletariado hoje. O professor e sociólogo Ricardo Antunes que tem colocado sua produção teórica a serviço de entender o mundo do trabalho nos ajudar a colocar alguns pingos nos "i's" sobre o assunto com um texto de 2001 escrito para a revista Debate Sindical: O proletariado e a classe trabalhadora hoje.

Apoiado na obra de Karl Marx e Friederich Engels, Ricardo Antunes trata logo de colocar um sinal de igual entre proletariado e classe trabalhadora, esclarecendo que "como Marx e Engels entendemos inicialmente classe trabalhadora e proletariado (em sentido amplo) como sinônimos. Por diversas vezes, eles nos afirmaram que a classe trabalhadora (ou o proletariado) incorpora a totalidade dos assalariados (homens e mulheres), que vive da venda da sua força de trabalho e que é completamente despossuída dos meios de produção".

Mas o professor não para por aí, vai além e provoca: "é possível detectar maior potencialidade mesmo centralidade nos seus segmentos mais qualificados, naqueles que vivenciam uma situação mais "estável" e que têm, conseqüentemente, maior participação no processo de criação de valor? Ou, pelo contrário, o polo mais fértil da ação encontraria maior impulsão nos segmentos assalariados mais precarizados, nos estratos mais subproletarizados ou mesmo nos desempregados?"

Vale a leitura. Clique aqui e bom proveito.

sábado, 17 de agosto de 2013

Roberto Cláudo foi a missa comemorar o aniversário e ganhou de presente um sermão do padre


E a missa que que era pra ser sido festa e palanque pro prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, reverteu-se em uma belíssima demonstração exatamente do contrário graças ao sermão do padre que a celebrava. Nascido em 15 de agosto, feriado católico da padroeira da capital cearense, o afilhado do governador do Ceará, foi ao santuário de Nossa Senhora de Assunção no bairro operário "Barra do Ceará", ganhar afagos da população e em seu lugar ouviu o que não queria. Durante o sermão o Bispo Dom Vasconcelos aproveitou para lembrar ao prefeito do que o povo de Fortaleza precisa, que por sinal está muito distante das famigeradas e questionáveis obras do Viaduto do Cocó e do tal Aquário milionário. Vale destacar que a cada questionamento de Dom Vasconcelos ouviu-se os gritos de apoio da população ali presente.

sábado, 10 de agosto de 2013

"Carta às organizações da Esquerda sobre o machismo em suas Fileiras" (via @FeminismoSD)


O texto a seguir foi publicado no blog Feminismo Sem Demagogia há praticamente um mês refletindo ainda o espírito das jornadas de junho e o 11 de julho e trata de um tema caríssimo aos ativistas verdadeiramente socialistas e revolucionários: a necessidade de expulsar o machismo em todas suas variantes e manifestações das fileiras das organizações de esquerda. Como socialista, ex-militante de uma dessas organizações de esquerda e marido de uma super feminista fantástica também ex-militante, me vi praticamente empurrado a dar eco à postagem de Vera Silveira. Boa leitura!

Carta as organizações da Esquerda sobre o machismo em suas Fileiras

A esquerda socialista tem uma grande resistência em admitir o machismo dentro de suas fileiras, como se ao assumir se como socialista e ser militante socialista fizesse dos indivíduos automaticamente feministas, e sabemos que não é assim que funciona, desconstruir algo que foi enfiado em nossas mentes durante uma vida inteira e influenciou na formulação de opiniões e formas de agir não é algo fácil. Não. Ser socialista não te dá credenciamento para ser feminista e nem te livra de reproduzir o machismo, definitivamente.

Esta postura de entender as organizações de esquerda como algo perfeito, um lugar seguro onde não se reproduz as contradições históricas do machismo, racismo e homofobia (entre outras opressões) é um dos motivos que nos impede um debate, que de certo, se feito contribuirá para combatermos as opressões em nossas fileiras e até mesmo erradicá-lo.

Nestes últimos dias levantaram se várias manifestações pelo Brasil e a esquerda saiu à rua para apoiar e lutar junto com o povo e por suas reivindicações. Em espaços públicos onde poderíamos exercitar nossa camaradagem, e exercitamos em vários momentos, apareceram também às tais contradições que a esquerda insiste em não reconhecer dentro das suas fileiras, várias companheiras relataram casos de machismo sofrido por elas vindo de onde menos se espera: Dos próprios companheiros da esquerda.

Fica nítido nos relatos das companheiras denunciantes que os homens não conseguiram abrir mão da construção de uma política truculenta, intimidadora e provocadora, e se não entendem que isso trata se de uma forma masculinizada de fazer política é por que está tão naturalizado, que sequer a autocrítica conseguem fazer.

Esta forma de fazer politica deve ser questionada por todas a esquerda, não só as feministas, mas todos que desejam avançar a luta de classes, pois posturas enraizadas no machismo expulsam mulheres de nossas fileiras de militância todos os dias, para cada mulher expulsa, para cada mulher que se cala, a luta de classes se enfraquece, somos 50% da classe trabalhadora e que fique claro: Não se faz a luta de classe sem esta parcela significativa dos ativos.

Gostaria de salientar que este tipo de política não é exclusivo do homem, apesar de ser uma forma masculinizada de ação, é um modo naturalizado até por nós mesmos, as mulheres, sim o oprimido reproduz o discurso do opressor, e parafraseando Paulo Freire, sem uma educação libertadora, o sonho do oprimido será o de oprimir também.

O machismo não é algo para resolver depois da revolução, nenhuma opressão pode esperar, todas devem ser combatidas aqui e agora, e principalmente dentro de espaços que devem ser exemplo da sociedade igualitária que queremos. O machismo não é um ente etéreo, ele precisa de pessoas para se manifestar, e são pessoas que lutam contra uma opressão, a do capital contra o trabalhador, que estão reproduzindo outras opressões. Uma forma clara de observarmos o machismo são situações de Imposição de poder sobre as mulheres as quais devem ser criticadas por toda militância da esquerda.

As situações de imposição de poder sobre as mulheres se dão de várias formas, podendo citar aqui para compreensão: Interpelar as companheiras aos gritos, com gestos exagerados e intimidadores, desqualificação das opiniões, desqualificação inclusive das denuncias de machismo entre outras.

O machismo, esta forma de intolerância e imposição tem sido manifestada muitas vezes através da defesa apaixonada de posicionamentos políticos, confundindo as pessoas, mas não se trata de defesa apaixonada a posicionamentos, assim como não se trata de crime passional o feminicídio. Em nenhum dos dois casos há paixão, ambas são violência machista, e é necessário e urgente diagnosticar e combater a existência destas posturas em nossas organizações.

Infelizmente o contexto atual nos mostra que existe uma espécie de corporativismo entre as organizações políticas, onde o debate sobre o machismo é varrido para debaixo do tapete, não falo do debate superficial, falo do debate sincero e profundo sobre a questão, e quando vêm à tona situações de machismo companheiros e companheiras das organizações tratam como se fossem as denuncias oportunismo, como se partissem de pessoas que estão pré-dispostas a destruir estas organizações perfeitas que passam a ser defendidas com unhas, dentes e sectarismo, muito sectarismo. Esta defesa apaixonada dos militantes acaba por acumpliciar se da reafirmação do machismo em nossas organizações e expulsar as mulheres das nossas fileiras.

Confrontar o machismo é uma questão política, e ao contrário do que tenta se colocar não é menor, instrumentos de sansão aos militantes machistas devem ser aplicados para educação dos mesmos, para que reconheçam seus erros e não os repitam, pois não é justo que um camarada que utiliza se de métodos como intimidação, agressão física, verbal ou emocional, truculência etc. Continue representando publicamente as posições de sua organização política ou participar das reuniões de direção, ou será que é?

Gostaria de observar que pedir desculpas ou fazer autocrítica de forma privada, quando a agressão deu se de forma publica as mulheres militantes, dirigentes ou de qualquer organização política, principalmente as socialistas e de esquerda, não deve ser aceita. Pois quando uma agressão machista atinge uma mulher, atinge a todas.

Por entendermos que este tipo de opressão não deve se naturalizar dentro de organizações da esquerda, este debate deve fugir ao genérico e tornar se uma fonte de estratégias para combatermos o machismo tanto reproduzido pelo opressor, como reproduzido pelas oprimidas, conscientizando que nos lugares onde a classe trabalhadora se organiza para o combate ao sistema capitalista e suas classes, não há hierarquias de seres humanos e a prática do convívio de uma sociedade igualitária, deve começar a ser feita aqui e agora.

Vera L. da Silveira Aguiar

Coletivo Feminismo Sem Demagogia

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Ele são muitos... mas não podem voar. #FreePalestine


"Ai se eu corresse assim, tantos céus assim, muita história eu tinha pra contar..."

Acabei de ouvir Ednardo que completa 40 anos de carreira artística e como que por encanto fui levado a uma imagem de 2012 com uma menina que corre com a bandeira Palestina às costas como que voando com sua "cauda aberta em leque". E uma passagem após a outra da canção me veio a imagem do povo palestino que apesar dos agora completados 65 anos de humilhação do "conde raivoso" sionista continuam vivos e lutando pelo seu direito de existir.

Nunca é demais homenagear e lembrar a luta palestina. É... eles (os sionsitas) são muitos mas não podem voar.

Pra quem não conhece Ednardo e seu Pavão Misterioso fica aqui letra e música.



Pavão misterioso
Pássaro formoso
Tudo é mistério
Nesse teu voar
Ai se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história
Eu tinha prá contar...

Pavão misterioso
Nessa cauda
Aberta em leque
Me guarda moleque
De eterno brincar
Me poupa do vexame
De morrer tão moço
Muita coisa ainda
Quero olhar...

Pavão misterioso
Pássaro formoso
Tudo é mistério
Nesse seu voar
Ai se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história
Eu tinha prá contar...

Pavão misterioso
Pássaro formoso
No escuro dessa noite
Me ajuda, cantar
Derrama essas faíscas
Despeja esse trovão
Desmancha isso tudo, oh!
Que não é certo não...

Pavão misterioso
Pássaro formoso
Um conde raivoso
Não tarda a chegar
Não temas minha donzela
Nossa sorte nessa guerra
Eles são muitos
Mas não podem voar...

sexta-feira, 2 de agosto de 2013