terça-feira, 2 de junho de 2015

Formação política e teórica, aspecto fundamental do militante revolucionário. (texto de Bruno Rodrigues)

O texto a seguir é uma elaboração do meu camarada Bruno Rodrigues, militante revolucionário cearense, sobre a necessidade indispensável de formação política para todo ativista que não pretenda se tornar um "militonto" tal como resgata a citação de Plínio de Arruda Sampaio destacada no texto.

Bruno faz o favor de colocar os pingos nos "i"s em relação ao tema da formação, que é tremendamente negligenciada pela imensa maioria das correntes da esquerda revolucionária, reduzida à publicação de livros por uns, à repetição de "chavões" quase que como mantras sagrados por outros e por aí vai.

Uma contribuição valiosa e importante.

Boa leitura!

Formação política e teórica, aspecto fundamental do militante revolucionário.



“(...) Os oprimidos têm que juntar força, pensamento e 
esperteza para vencer a dominação.
Para que o ativismo não faça do militante um "militonto", ele deve ser capaz de "desmontar' o sistema capitalista e
apresentar saídas que apontem para a solução de seus problemas.
É fácil derrotar quem não estuda quem não para pra pensar.
É triste saber que muitos "estudados" não entram na luta.
Mas é imperdoável que um lutador não pare para estudar, não seja também um intelectual. (...)
Cartilha "Trabalho de base” da Consulta Popular, organizada por Plínio de Arruda Sampaio e Ranulfo Peloso.

Sem teoria revolucionária, não há prática revolucionária.
V. I. Lênin

Quem diz que sabe, mas não sabe fazer, ainda não sabe.
F. Dostoievski


O apreço pela formação teórica revolucionária é uma característica marcante e de enorme destaque na vida de toda organização socialista séria. Por isso é errônea a ideia de que a formação, seja individual ou coletiva, deve ficar secundarizada para quando der, como se sua importância fosse menor que a de uma atividade de panfletagem ou de organização de um ato, por exemplo. Tal linha de pensamento é muito comum nas organizações reformistas que costumam separar a teoria da prática. Em geral e não por mero acaso, nesses tipos de organizações há tarefismo desenfreado, seguidismo aos dirigentes, embriaguez autoproclamatória, ausência de critica e autocrítica, pouca democracia interna e por aí vai.

Dizemos que não é por mero acaso, pois se impera uma divisão de tarefas onde um polo detém o conhecimento e, portanto manda no outro polo que apenas cumpre tais tarefas de forma acrítica, não podendo haver assim condições democráticas de debate interno. Fatalmente, também não haverá política revolucionária e logo, sobrará tarefismo pros militantes de base. O tarefismo por sua vez nos dificulta o pensamento e mina a capacidade de questionar. Quando não fazemos o exercício de nos questionarmos e questionarmos as nossas inúmeras certezas que cristalizamos nas nossas mentes, fica fácil cair na embriaguez autoproclamatória, no culto aos dirigentes e na reprodução de chavões. Dessa forma o militante passa a crer que seu dirigente é infalível e que sua corrente é detentora da sacra verdade revolucionária revelada por São Marx. Nessas condições, o militante dificilmente pode crescer, pois, ou quebra e se afasta da luta para procurar respostas em outro lugar ou se consolida como senso comum de esquerda e como sabemos, o senso comum é e sempre será um obstáculo à consciência revolucionária. Infelizmente, é fácil, extremamente fácil encontrar casos assim em boa parte das correntes.

Feita essa primeira ressalva, não queremos dizer que devemos ser dogmáticos com o marxismo como quem lê o evangelho ou que devamos canonizar os autores consagrados. O marxismo não é a chave mágica para o reino da revolução, é na verdade um poderoso e útil guia (e não um manual) para a compreensão do mundo e ação transformadora de milhares de revolucionários. Ser dogmático não é o mesmo que ter convicção. Os sectários têm uma enorme dificuldade de entender assim e por isso vivem isolados. Como se sabe, as seitas e os dogmas também não são lá muito úteis para as revoluções.

Em geral, um militante se move pela dúvida. Esta é, a priori, uma grande aliada, pois ela nos arranca do comodismo e nos empurra adiante para que saiamos em busca de respostas:

- Como rebato o argumento da tendência liberal que está se construindo no meu curso e diz que o capitalismo é viável para os pobres?
- No meu trabalho, alguém disse que o socialismo é impossível, pois é impossível que trabalhadores consigam governar. Onde acho exemplos na história que provam o contrário?
- Será mesmo o estado de Israel o detentor legitimo dos diretos sobre o território da Palestina?

Apoiamos-nos na premissa de que a formação militante não se resume a quantidade de livros que se tenha lido ou a quantidade de grupos de estudos que se tenha realizado. Claro que uma boa bagagem literária que possa nos prover conhecimentos em marxismo, história, filosofia, sociologia, economia e inclusive em cultura geral, é sem dúvida nenhuma, fundamental. Mas formação não se limita somente a esse aspecto unilateral do aprendizado.

Acreditamos, na verdade, que a formação política é o resultado do acumulo literário somado à experiência prática executada no cotidiano, formando assim uma totalidade bem mais abrangente e complexa que a mera soma das partes. Para ser um bom militante não basta ter só erudição sem que se tenha uma prática diária onde pôr à prova seus conhecimentos e principalmente, que saiba assimilar o que se aprende com espírito crítico e autocrítico:

A questão de saber se ao pensamento humano cabe alguma verdade objetiva [...] não é uma questão da teoria, mas uma questão prática. É na prática que o homem tem de provar a verdade, isto é, a realidade e o poder, a natureza interior [...] de seu pensamento. (...) Marx e Engels, A ideologia Alemã.

Afirmamos isso, pois entendemos que diferente do que a rigor se crê, a teoria revolucionária marxista é uma ciência e como tal, não é possível assimilá-la inteiramente na academia ou em manuais, como se esta fosse uma peça forjada que se adquire ou se dá ou um receita de bolo com ingredientes reunidos que se prepara segundo um esquema pré-definido. Ao contrário, marxismo se aprende tão somente quando fincamos os pés no campo da luta de classes real e concreta. Afirmar isso é ainda mais importante, diante da tendência muito comum que se desenvolve em muitos grupos embrionários, de adaptar-se às vicissitudes da rotina acadêmica, o que acaba neutralizando a ação do grupo tornando-o um inofensivo clube de intermináveis debates, possivelmente tutelado por algum guru-professor universitário.

A isso chamamos de academicismo. Podemos citar como exemplo de desvio academicista aqueles camaradas que conhecemos por estudar muito e não militarem e que em muitas vezes são bastante vaidosos, para não dizer, narcisistas. São companheiros que às vezes dominam a teoria muito bem, mas como não são militantes, muitas vezes se saem desastrosos quando tentam fazer uma análise de conjuntura ou não têm a menor ideia de como fazer um bom trabalho de base com agitação e propaganda na base do seu curso ou como organizar uma chapa de CA, por exemplo. Ora, convenhamos que só a informação de como nadar, de pouco serve para a prática da natação.

Por outro lado, claro que não queremos incorrer num outro desvio, de natureza obreirista, e dizer que academia não tem nada de útil a nos oferecer. Menos ainda queremos ser impiedosos com aqueles camaradas que dedicam sua vida à atividade intelectual. Na verdade há muitos intelectuais que bastante contribuíram pra formação teórica da classe trabalhadora. Com esse argumento queremos tão somente ponderar que a atividade militante é uma totalidade que envolve múltiplos aspectos de forma acumulativa, cíclica, permanente e dialética: estudo, prática, reflexão crítica e autocrítica, assimilação, estudo... 
 
Nesse sentido, fazemos questão de recorrer às palavras de um antigo marxista argentino:

O marxismo fala de unidade inseparável entre teoria e prática. O marxismo não crê que estas sejam coisas distintas e complementares entre si. O marxismo nega que a teoria seja um complemento da prática, ou vice versa. Para o marxismo, a teoria e a prática não são mais que momentos de um mesmo processo que é a práxis, Isto é, a ação do homem.

No mesmo texto, o autor em questão se refere a ninguém menos que Lênin, da seguinte forma:

(...) Lênin era um homem de ação. Mas não de ação sem verdade. Para ele - e para o marxismo - a ação não se opõe ao pensamento; a ação exige o pensamento. Para o marxismo, a prática política é uma prática consciente. E para o marxismo, a prática não significa apenas adaptar-se ao existente, mas sim ter habilidade técnica para atuar sobre o existente. Para o marxismo, prática significa conhecimento profundo da realidade e ação plenamente consciente, ou seja, baseada no conhecimento. (...) Milciades Peña, O que é marxismo?

Um bom militante deve buscar sempre elevar seu conhecimento. Precisa crer que está em permanente construção intelectual e, portanto deve repudiar a ideia arrogante de que já sabe o bastante. Falamos de conhecer não só o marxismo, a lógica dialética, a economia política ou a história do movimento operário, mas de ter cultura geral mesmo, instruir-se em outros segmentos do conhecimento humano como o cinema, a literatura, as ciências, os idiomas, etc. Não na intenção de nos tornarmos aquele típico personagem diletante e presunçoso, pedante e sem raízes na classe trabalhadora, alheio à prática militante e pretenso guia genial da humanidade, mas para nos tornarmos militantes que consigam superar a si mesmos no dia a dia e sermos melhores em nossa atividade revolucionária diária. Quem faz já sabe, quem pensa sobre o que faz, faz melhor, ensina a sabedoria popular. Nessa perspectiva, a experiência dos velhos bolcheviques é inspiradora:

(...) Naturalmente, nem todos os bolcheviques são mananciais do conhecimento, porém sua cultura lhes eleva muito por cima do nível médio das massas. Em suas fileiras se contam alguns dos intelectuais mais brilhantes da época. Sem duvida alguma, o revolucionário profissional bolchevique difere muito do precoce burocrata descrito por seus inimigos. (...) Pierre Broué, O Partido bolchevique.

Há outro desvio tão grave e tão comum quanto o academicismo ou o obreirismo, que é o movimentismo, o ativismo pelo ativismo que se basta das tarefas cotidianas como um fim em si mesmo. Tais vícios, como já assinalamos, são traços próprios das organizações reformistas, nãos das revolucionárias.

Na história das principais organizações revolucionárias, a formação sempre teve lugar privilegiado. Mesmo a grande revolução russa em sua fase preparatória, foi precedida pela existência de inúmeros círculos operários que se reuniam para estudar o marxismo. Alguns intelectuais marxistas do calibre de Plekhanov, Martov, Lênin, Vera Zasulich e Trotsky começaram sua experiência de militância no interior desses círculos ilegais, onde sua tarefa, além do estudo do marxismo, era a alfabetização de trabalhadores combinada com a agitação e propaganda clandestina do socialismo e da luta contra a monarquia.

Mas a formação de bons militantes marxistas, aliás, não é das tarefas mais simples. Requer disciplina, esforço e dedicação, pois afinal marxismo é uma ciência, uma concepção de mundo que abarca um amplo espectro de conhecimento. Marx nos ensinava que em toda a ciência o difícil é o começo. Em que pese essa dificuldade, ela pode ser amenizada com o estudo coletivo que é uma excelente forma de estudar.

Via de regra, se não há uma conjuntura propícia, em que a classe trabalhadora esteja em luta ofensiva, a tarefa da formação revolucionária torna-se particularmente penosa. Na verdade, acreditamos que na experiência da luta um revolucionário consegue educar-se com mais rapidez, amplitude e profundidade, do que em épocas onde as condições de luta não estão muito favoráveis. Aqui vale o conselho de um revolucionário veterano:

A verdadeira educação das massas nunca pode estar separada de sua luta política independente e, sobretudo, da luta revolucionária. Só a luta educa a classe explorada, só a luta revela a magnitude de sua força, amplia seus horizontes, desenvolve sua inteligência e forja sua vontade. Lênin, Jornadas Revolucionárias, 1905

A burguesia no seu processo de formação e desenvolvimento social, muito antes de tomar o poder na Europa já havia iniciado sua revolução no campo ideológico com o iluminismo e com o incentivo ao mecenato [1]. Apoiando-se na intelligentsia, ela foi criando as condições históricas pra tomar de assalto em definitivo o mundo feudal, que já estava caminhando para a ruína. Na medida em que ela assentou os alicerces da sua dominação ideológica, ampliou seu poder político/econômico e vice versa. Não é gratuita a ideia exposta no capitulo primeiro d’A Ideologia Alemã de Marx e Engels:

As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes, isto é, a classe que é a força material dominante na sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A classe que tem a sua disposição os meios de produção material dispõe também dos meios de produção espiritual, de modo que a ela estão submetidos aproximadamente ao mesmo tempo os pensamentos daqueles aos quais faltam os meios de produção espiritual.

(...)

Os indivíduos que compõem a classe dominante possuem, entre outras coisas, também consciência e, por isso, pensam; na medida em que dominam como classe e determinam todo o âmbito de uma época histórica, é evidente que eles o fazem em toda sua extensão, portanto, entre outras coisas, que eles dominam também como pensadores, como produtores de ideias, que regulam a produção e a distribuição de ideias de seu tempo; e, por conseguinte, que suas ideias são as ideias dominantes da época. (...)

Em contrapartida, a classe trabalhadora luta por sua emancipação partindo de condições bem mais precárias, pois em primeiro lugar, ela sequer é classe para si, ou seja, (ainda) não desenvolveu consciência de classe nem conhece sua própria história; admira e vota nos seus inimigos de classe; reproduz a retórica burguesa e mesmo seus sindicatos ou partidos, muitas vezes, também podem servir como correia de transmissão da ideologia burguesa; pode até cumprir papel de polícia patronal, diante de uma eventual greve, por exemplo, quando alguém fura a greve ou cabueta outro trabalhador grevista; é cotidianamente alienada e embrutecida pelo individualismo, consumismo, violência, álcool, religião, pornografia, machismo, homofobia, racismo, etc. Enquanto que pra cada quadro que se forma em meio à classe trabalhadora e vira um bom tribuno revolucionário leal e dedicado, a burguesia edifica seu estado maior intelectual formando centenas de, Adam’s Smiths, Ciro’s Gomes, Fernando’s Henriques ou Delfin’s Netos nas suas Oxford’s ou Havard’s da vida, com carreiras, títulos, prestígio e toda sorte de benesses materiais.

É possível vencer a burguesia que dispõe desses formidáveis recursos e impõe uma desigualdade abismal nas condições de luta? Trotsky dizia que a essência da tragédia é alentar grandes planos, porém dispor de meios precários. A burguesia nos lançou nessa trágica situação onde nos privaram de quase todas as possibilidades de vencê-los. Mesmo assim, com todo peso do seu esforço, nem a burguesia nem o stalinismo puderam apagar algo que é muito caro para nós revolucionários: a memória histórica da luta de classes.

Por suposto que é possível vencê-los. Estamos convictos disso, pois a história de todo o séc. XX está recheada de provas que mostram que é perfeitamente possível dobrá-los e derrotá-los. A batalha maior a ser empreendida pela nossa geração nesse século que recém se abriu se inicia com a batalha por recuperar a consciência classista entre as parcelas mais jovens, mais numerosas e mais exploradas do proletariado e por resgatar a ideia de que o socialismo é tão necessário quanto possível. Isso se dá, participando de cada pequena greve ou mobilização estudantil, popular ou sindical, combinando apoio e solidariedade classista com intensa agitação e propaganda revolucionária. Como nos ensinou aquele conhecido filósofo alemão, as ideias que penetram nas massas ganham força material, portanto, a formação revolucionária e o resgate permanente dessa memória histórica da luta de classes são algumas das mais valiosas armas que dispomos na disputa pela consciência da classe trabalhadora.

Em particular, achamos que as atividades de estudo e teoria sempre devem ter por critério central, a formação de mulheres revolucionárias. É vital incentivar que cada vez mais, mulheres revolucionárias revelem seus talentos e que surjam grandes oradoras, excelentes propagandistas, ótimas escritoras, eminentes organizadoras, boas intelectuais marxistas orgânicas e assim por diante, pois é necessário desmontar a hegemonia masculina muito comum nas organizações de esquerda. Ora, se metade da classe trabalhadora é do sexo feminino, não faz o menor sentido que à frente das organizações de esquerda estejam majoritariamente camaradas do sexo masculino. Isso é uma distorção absurda. Além do quê, se já é difícil que um camarada homem se revele um grande quadro, por tudo que já expusemos acima, para que se desenvolva uma grande revolucionária mulher então, isso se torna um desafio de redobrada dificuldade, pois contra ela jogam diversos fatores: o machismo da sociedade patriarcal que inclusive se reflete no interior das organizações de esquerda, a pressão das famílias, namorados, etc. Logo, é obrigação da organização revolucionária refletir em suas fileiras o protagonismo da mulher proletária, dando todas as condições para que as companheiras se desenvolvam plenamente, cabendo à organização servir-lhe de contra-mola a todas essas pressões retrógradas que puxam a mulher revolucionária para o beco obscuro da servidão doméstica e patriarcal.

Por fim, o trato de um revolucionário para com o conhecimento deve ser sempre de extremo zelo e rigor, tanto do ponto de vista de quem passa um conhecimento como de quem recebe, trabalhando na perspectiva de quanto mais conhecimento for socializado, melhor. Vale mais uma vez recorrer aos ensinamentos daquele velho teórico argentino:

O marxismo recusa a concepção tradicional do ensino como um processo em que uma pessoa ativa ensina e muitas pessoas passivas aprendem. Esta concepção, que se baseia na divisão entre teoria e prática, entre o trabalho manual e o trabalho intelectual, deve ser trocada por uma que vê o ensino como um processo criador, no qual todo o grupo – o que ensina e os que aprendem – trabalham ativamente, confrontando seus conhecimentos e suas ideias, e, através deste confronto, aquele que aprende consegue partilhar de um novo conhecimento e o que ensina aprofunda seus conhecimentos.

Engels disse a seus alunos: “a primeira coisa que devem aprender aqui é a estar de pé”. Quer dizer, em tensão, alertas e em atividade, em atitude criadora. “Se o aprender se limitasse simplesmente a receber, não daria resultado muito melhor que escrever em água”. Aquele que estuda algo deve recriar esse algo dentro de si mesmo. Não é questão de receber algumas noções de marxismo. É preciso investigar o marxismo, enfrentá-lo, penetrar profundamente na matéria que se requer aprender e deixar que essa matéria penetre profundamente no intelecto e na emoção daquele que aprende, caso contrário, não é possível a aprendizagem. Só se aprende através da investigação. De modo que nossa tarefa será investigarmos juntos o marxismo. Juntos teremos que descobrir e redescobrir o marxismo, começando por sua essência, que é o mais difícil de se captar, e fugindo das vulgarizações e simplificações de estilo de alguns manuais. (...) Milciades Peña, O que é marxismo?

Toda iniciativa como grupos de leitura e estudo de tal ou qual obra ou autor deve ser bem vinda e incentivada nas organizações revolucionárias, porém nunca podem ser vistas como um fim em si mesmo. Da mesma forma, todo grupo revolucionário pode e deve buscar nos intelectuais socialistas, de quem se requer boa didática e bom domínio de conteúdo, o apoio necessário nas atividades de formação sem, no entanto, criar uma perspectiva de tê-los como tutores ou guias, afinal a classe trabalhadora precisa que se formem bons militantes capazes de abstrair autonomamente sobre as grandes questões da luta de classes e do marxismo, e não um rebanho acrítico cujas ações e pensamentos são teleguiados por um suposto papa do conhecimento.

Se pra burguesia que a tudo torna mercadoria vale a lei do “time is Money”, para nós revolucionários o precioso pouco tempo livre que dispomos, é oportunidade de manter nossa saúde intelectual em dia.

Rechacemos com afinco o empirismo, o improviso artesanal e o pragmatismo militante dos oportunistas e socialistas amarelos em geral, que sempre desprezaram a teoria marxista com preconceitos tacanhos e frases rebaixadas. Deixemos o pedantismo do ambiente hermético e estéril da academia pros academicistas, pois lá é o lugar deles, não dos revolucionários. É de dentro de um ambiente saudável e de elevado nível intelectual e espírito critico e de ação consciente e, portanto, desalienada, de onde serão recrutados os grandes tribunos que servirão na linha de frente dos grandes combates da classe trabalhadora.

Bruno Rodrigues


Notas: 
[1] Conforme a definição apresentada no Grande Dicionário Larousse Cultural da Língua Portuguesa, Ed. Nova Cultural: 
 ILUMINISMO s.m 1. Movimento intelectual que caracterizou o pensamento europeu do séc. XVIII, particularmente na França, Inglaterra e Alemanha, baseado na crença do poder da razão para solucionar os problemas sociais. 
 MECENATO s.m (Do lat. Maecenas, n.pr.) Proteção dada às letras, às ciências e às artes, concedida por pessoas ricas e que as amam.