Mostrando postagens com marcador #protestobr. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador #protestobr. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 4 de junho de 2014

"Fim da letargia" (artigo de Ricardo Antunes de 21/06/2013) #RelembrarJunho


Em seu artigo, Fim da letargia, publicado em 21 de junho de 2013 na Folha de São Paulo, o professor Ricardo Antunes chama atenção para o momento de ruptura que significaram as lutas de junho do ano passado. Lembra que até a vitória eleitoral de Lula, o Brasil esteve profundamente marcado por lutas sociais e políticas e que "a eleição de 2012 acabou por se converter na vitória da derrota" com um governo de "pouca mudança mas nenhuma com substância" e com a desorganização da "quase totalidade do movimento opositor" (inclua-se aí tanto a oposição de direita como a de esquerda).

Mais um importante texto para relembrar junho e preparar novas jornadas.

Fim da letargia


Nosso país esteve à frente das lutas políticas e sociais na década de 1980, conseguindo retardar a implantação do neoliberalismo no Brasil fazendo com que a chamada “década perdida” fosse, para os movimentos sociais e políticos populares, o seu exato inverso.

Nesses anos, floresceu um forte sindicalismo de oposição. As greves caminharam em sentido inverso às tendências regressivas presentes no mundo ocidental. Nasceram incontáveis movimentos sociais. Ampliou-se a oposição à ditadura militar. Desenhou-se uma Assembleia Nacional Constituinte e vivenciamos, em 1989, um processo eleitoral que dividiu o Brasil em dois projetos distintos.

A década seguinte foi avassaladora: neoliberalismo, reestruturação produtiva, financeirização, desregulamentação, privatização e desmonte. Quando ocorreu a vitória política de 2002, com a eleição de Lula, o cenário era profundamente diverso dos anos 1980. Como a história é cheia de surpresas, caminhos e descaminhos, a eleição de 2012 acabou por se converter na vitória da derrota.

Oscilando entre muita continuidade com o governo de FHC e pouca mudança, mas nenhuma com substância, o primeiro mandato de Lula terminou de modo desolador, o que o obrigou a fazer mudanças de rota, sempre com muita moderação e nenhuma confrontação. Bolsa Família e altíssimos lucros bancários; aumento do salário mínimo e enriquecimento crescente no topo; nada de reforma agrária e muito incentivo ao agronegócio.

O nosso homem duplicado renasceu das cinzas em seu segundo mandato. Terminou o governo em alta: ao mesmo tempo em que fez seu sucessor, desorganizou a quase totalidade do movimento opositor. Era difícil opor-se ao ex-líder metalúrgico, cuja densidade fora solidamente construída nos anos 1970 e 80.

Quem se lembra de sua situação em 2005, atolado no mensalão, e dele se recorda no fim do seu mandato, em 2010, sabia que estava à frente de uma variante de político dos mais salientes. Se Dilma, sua criatura política – uma espécie de gestora de ferro – soube vencer as eleições, pudemos aqui, neste mesmo espaço, lembrar que algo maior lhe faltava: a densidade social, que sobrava em Lula.

Com paciência, espírito crítico e muita persistência, os movimentos populares haveriam de superar esse difícil ciclo. Acabariam por perceber que, para além do crescimento econômico, do mito falacioso da “nova classe média”, há uma realidade profundamente crítica em todas as esferas da vida cotidiana dos assalariados. Na saúde pública vilipendiada, no ensino público depauperado, na vida absurda das cidades, entulhadas de automóveis pelos incentivos antiecológicos do governo do PT. Na violência que não para de crescer e nos transportes públicos relativamente mais caros (e precários) do mundo.

Na Copa “branqueada” sem negros e pobres nos estádios que enriquecem construtoras e que, no caso do Engenhão, está desmoronando; nos assalariados que se endividam no consumo e veem seus salários se evaporar; no fosso colossal existente entre as representações políticas tradicionais e o clamor das ruas. Na brutalidade da violência da Polícia Militar de Alckmin e Haddad. Isso ajuda a compreender por que o movimento pelo passe livre encontra tanta acolhida na população. Estamos só começando.

terça-feira, 3 de junho de 2014

"Onde tudo começou" (artigo de @VladimirSafatle de 16/07/2013) #RelembrarJunho


Em 16 de julho do ano passado, o quase candidato a governador de São Paulo pelo PSOL, professor Vladimir Safatle, publicou em sua coluna semanal na Folha de São Paulo o artigo "Onde tudo começou", tratando sobre o que ele chamou de ensaio geral para as manifestações do ano passado. O artigo é um importante texto de reflexão sobre as causas do que nos acostumamos a chamar de jornadas de junho. Publicamos o texto como parte do esforço necessário de relembrar junho de 2013 para assim preparar novas jornadas. Boa leitura.

Onde tudo começou


Se procurarmos um ensaio geral para as manifestações de junho, deveríamos voltar os olhos para a Amazônia. Lá se encontra o megacanteiro de obras da usina de Jirau: uma das peças principais da política energética brasileira.

Em 15 de março de 2011, o Brasil viu uma das mais violentas manifestações do subproletariado contra suas condições degradantes de trabalho. Sem se sentirem representados por sindicatos e outros atores políticos tradicionais, os trabalhadores de Jirau, que descobriram como as condições de trabalho no novo Brasil continuam insuportáveis, atearam fogo em alojamentos e ônibus. Eles atearam fogo também na afirmação de que o subproletário brasileiro preza a ausência de radicalismo e a segurança.

Foi assim que começou o governo Dilma, ou seja, com um sinal de alerta gritante para a frustração da sociedade com os limites do desenvolvimento social brasileiro.

Depois de Jirau, veio uma sequência quase ininterrupta de greves: de policiais, bombeiros, professores, coveiros. Todos reclamando dos baixos salários, incapazes de dar conta dos gastos em um país onde somos obrigados a pagar por educação e saúde, onde não se pode contar com transporte público e onde o preço dos imóveis explodiu devido à especulação imobiliária. Um país onde o banco estatal de desenvolvimento (o BNDES) foi capaz de aplicar uma política de incentivo à formação de grandes "players" internacionais que acabou por oligopolizar ainda mais a economia.

Sendo assim, não é nem um pouco estranho que um dos eixos das manifestações de junho tenha sido a incapacidade de o Estado brasileiro parar o processo de corrosão dos salários e criar serviços públicos universais e de qualidade. Pois, se há algo que une tanto o subproletário quanto a classe média, é a consciência de que o processo de ascensão social produzido pelo lulismo esgotou. Ele só poderia continuar por meio da criação de um Estado capaz de oferecer serviços públicos que eliminassem os gastos das famílias com educação, transporte e saúde.

Para tanto, contudo, não há milagre. Como dizem os liberais, não há almoço de graça. O problema brasileiro é que, quanto mais rico você é, menos paga seu almoço. Para impedir que rentistas, herdeiros, empresários que recebem mapas da mina das mãos do pai privatista e outras figuras do bestiário nacional continuassem almoçando sem pagar, o governo deveria ter partido para uma reforma fiscal que obrigasse os ricos a fazer o que não fazem em nenhum país latino-americano: pagar impostos.

Mas, para isso, seria preciso outra ideia do que significa "garantir a governabilidade". Ela é necessária agora, quando não dá mais para esconder Jirau no meio da floresta.

sábado, 31 de maio de 2014

Para relembrar e celebrar as jornadas de junho: "A partir de agora"


Estamos chegando ao primeiro aniversário das jornadas de junho de 2013 quando uma explosão de mais de um milhão e quatrocentas mil pessoas protestaram em mais de 130 cidades em todo o país em um único dia. Foi um imenso desabrochar de uma primeira grande onda de protestos nacionais no país que perdurou durante pelo menos vinte dias. O estopim para quem não lembra foi a repressão contra as manifestações do movimento Passe Livre em São Paulo no dia 13/06 e contra a própria imprensa que cobria o ato. A partir dali, manifestações cada vez maiores tomaram o país até que as prefeituras das principais cidades, acuadas pela força popular, recuaram, uma após a outra, dos aumentos das tarifas de ônibus.

Até então era impossível reduzir vinte centavos que fossem da passagem de transporte público. Falar de passe livre então era algo impensável. Eis que as coisas mudaram. As manifestações inauguraram um nova conjuntura no país. Mas como uma onda que era teve seu pico e em seguida seu natural refluxo. Nenhuma organização do movimento de massas conseguiu enxergá-la e se colocar a altura de surfá-la. Tentou-se reeditá-la ou mesmo estica-la com o 11 de julho e o 30 de agosto que alguns ousaram até chamar de greve geral mas, pelo menos agora, à luz dos acontecimentos, é bom que se diga que nem de longe passou por isso.

Agora que nos aproximamos do aniversário de junho, e diante do novo momento de manifestações populares que se abre no país em parte impulsionada pela situação econômica e em larga medida pelo nível crescente de repressão do governo a favor da Copa da FIFA é indispensável revisitarmos os acontecimentos de junho de 2013.

O documentário "A partir de agora" de Carlos Pronzato cumpre bem esse papel. Tal como é apresentado em sua própria descrição, "não é apenas uma ferramenta para o debate e a compreensão das Jornadas de Junho, mas também um instrumento de organização da luta política, característica marcante da militância audiovisual de Carlos Pronzato, que também dirigiu, entre outros, "O Panelaço - a rebelião argentina" (2002) e "Carlos Marighella - Quem samba fica, quem não samba vai embora" (2011)".

Apesar de suas limitações em inclusive não apontar saídas de fundo e inclusive em dar voz a algumas expectativas e conclusões exageradas e até mesmo deslocadas, o filme de Pronzato é praticamente parada obrigatória para os que viveram aquelas jornadas e cotidianamente para novas. Relembrar as jornadas de junho é preparar a construção de novas jornadas.

Abaixo segue o video direto do YouTube e para os que preferirem segue link de nossa conta no Google Drive para fazer o download. Bom proveito.


segunda-feira, 29 de julho de 2013

Afinal de contas o que foram as jornadas de junho? Ricardo Antunes e Ruy Braga nos ajudam a tentar entender.

O mês de julho vai chegando aos seus últimos dias e ainda que tenhamos vivido importantes manifestações e até mesmo um importante dia nacional de lutas, não vimos mais nenhum grande levante coordenado ou mesmo que de forma isolada nos últimos dias. Sim, tivemos ocupações de câmaras municipais, belas passeatas e até mesmo muita repressão. Mas nada mais como o que vimos na segunda quinzena de junho com mais de um milhão e quatrocentas mil pessoas protestando em mais de 130 cidades em todo o país em um único dia. Ainda que não tenha atingido sequer um por cento dos nossos 190 milhões de habitantes, foi sem dúvida a primeira grande onda de protestos dos últimos vinte anos no Brasil.

Alguns eufóricos e apressados dirão que a camisa de força que prendia a classe trabalhadora e a juventude no país foi rompida em um ato de impressionismo que nada ajuda a entender o que se passou e o que se passa na luta de classes do país. Essa prática nociva de agitar exageros descabidos empurra os ativistas para o movimentismo frenético e desenfreado que não só de nada adianta, como no fim das contas atrapalha e muito.

Nesses dias em que vivemos é preciso mais que antes duvidar das fórmulas prontas. É preciso questionar. E em especial é preciso se esforçar para entender. 

Como parte deste esforço, dois importantes intelectuais da esquerda revolucionária do país produziram juntos ao final do mês de junho um texto chamado "A explosão social no Brasil: Primeiras anotações (para uma análise posterior)" publicado originalmente em espanhol e que por sua importância traduzimos e disponibilizamos aqui.  Boa leitura.

terça-feira, 23 de julho de 2013

@PMERJ brinca com fogo: Coquetel molotov lançado contra policiais foi obra de P2. #Veja #Divulgue


Não é a toa que a policia militar do Rio tem interesse em deter a imprensa livre tal como fez com os repórteres do @MidiaNinja. Poucas horas após os acontecimentos da noite do dia 22 de julho em que um coquetel molotov foi arremessado contra policiais, fato este amplamente coberto pela grande mídia, videos independentes começaram a pipocar na internet associando o suposto ativista incendiário com agentes infiltrados nas manifestações, os agora mais que famosos e popularizados "P2".

Tudo é muito rápido mas é possível verificar que o homem que lançou a bomba caseira é branco, usa calça jeans e camisa preta. Seu rosto estava coberto com uma camisa branca. Em outro dois videos captados de diferentes ângulos é possível ver dois homens brancos de calças jeans e camisas pretas se misturando rapidamente com policiais e tratando de retirar a camisa o quanto antes. Um deles carrega uma mochila nas costas.

A cada novo elemento que vem a tona sobre as manifestações @PMERJ só confirma o que já gritaram os verdadeiros manifestantes: "Ei, Beltrame, a polícia é um vexame!"

O video a seguir faz a junção dos dois momentos. Veja e divulgue.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Impressionante: @PMERJ prende @MidiaNinja simplesmente por filmar protestos.



Parece piada mas não é. Filmar protestos passou a ser sinônimo de incitação a violência. Isso mesmo. Dois repórteres do MidiaNinja foram presos esta noite pela Policia Militar do Rio de Janeiro por simplesmente filmar e transmitir ao vivo as manifestações no Rio. Sem provas para mantê-los presos e acompanhados por advogados e vários manifestantes que ficaram fora da delegacia, os repórteres foram liberados. A falta de provas porém não intimidou os responsáveis pela conta do twitter da PM que divulgou a prisão dos dois ativistas detidos "por incitar a violência".

Relatos falam que a PM possuía ordens expressas para prender os integrantes do MidiaNinja.

Não só o ativismo de todo o país mas inclusive a imprensa e as entidades de direitos humanos precisam exigir explicações imediatas do senhor secretário de segurança do Rio, José Mariano Beltrame, e caso esse não o faça, o senhor governador Sérgio Cabral deve fazê-lo. Quem deu as ordens para prender o Midia Ninja? Que seja esclarecido imediatamente e que o responsável seja prontamente afastado.

Como gritaram os manifestantes durante o protesto que exigiu a libertação dos ninjas: "Ei Beltrame! A Polícia é um vexame!"

sexta-feira, 19 de julho de 2013

O apogeu da covardia (texto de @mariomagalhaes_)


O jornalista carioca Mário Magalhães, autor do livro a biografia “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo”, publicou hoje em seu blog o texto "O apogeu da covardia" onde comenta sobre a comoção carioca acerca da depredação do Leblon na madrugada do dia 18 de julho e o silêncio desinteressado acerca dos dez mortos da Favela da Maré pelo BOPE na madrugada do dia 25 de junho. Vale a leitura.

O apogeu da covardia: lojas quebradas no Leblon comovem o Rio e o jornalismo, mas os mortos pela PM na Maré já foram esquecidos


O Rio se comoveu com o quebra-quebra ocorrido no Leblon na virada de 17 para 18 de julho de 2013. Balanço da baderna: depredação de orelhões, placas e 25 lojas.

O Rio não se comoveu com a morte de pelo menos dez pessoas na Maré na noite de 24 e na madrugada de 25 de junho, menos de um mês atrás.

O Rio em questão é o retratado pelo jornalismo mais influente. Danos ao patrimônio no bairro bacana, paraíso onde vivi por tantos anos, receberam muito mais atenção do Estado, dos meios de comunicação e de parcela expressiva da classe média do que a perda de vidas na favela Nova Holanda, no complexo da Maré.

É muita covardia. Contra quem? Contra os de sempre, os mais pobres.

Os crimes contra o patrimônio na zona sul foram obra de bandidos, de fascistoides, de ultra-esquerdistas, incluindo pseudo-anarquistas, de pequenos burgueses vagabundos e de alguns miseráveis desejosos de trajar roupas de grife (alguém viu um operário vandalizando?). Como queimam o filme dos protestos e beneficiam o governo estadual com o verniz de vítima, talvez haja infiltrados de origem nebulosa. Cometeram crimes, têm de ser punidos escrupulosamente, nos termos da lei.

Na Maré, o Bope invadiu a favela contra a vontade dos policiais que lá estavam. O efetivo era minúsculo, pois o grosso do batalhão estava cuidando de reprimir manifestações políticas. Resultado: uma bala provavelmente disparada por traficante de drogas matou um sargento da tropa de elite.

Em seguida, sobreveio a vendeta, com a invasão massiva. Nove moradores locais mortos e nenhum PM ferido gravemente. Confronto? Isso tem outro nome: chacina. No mínimo, dois jovens não tinham antecedentes criminais, um deles de 16 anos. A legislação penal brasileira não prevê pena de morte, para qualquer crime, ainda que seja o de assassinato.

Na Maré, o grosso do jornalismo não informou nem a identidade dos mortos, com exceção da do PM. No Leblon, os personagens tinham nome, sobrenome e lágrimas de quem perdeu alguns bens. Na favela, o pranto das mães que perderam seus rebentos quase não saiu no jornal.

A cúpula da segurança do Estado convocou uma reunião de emergência horas depois de os vândalos detonarem no Leblon. Alguém sabe de um encontro dessa natureza para tratar do morticínio na Maré?

Há mais diferenças além da essencial, entre crime contra a vida e crime contra o patrimônio. No bairro das adoráveis novelas do Manoel Carlos, aprontaram criminosos que devem responder judicialmente por si mesmos. Na Maré, atuaram agentes públicos. Se não se sabe ao certo qual foi o comportamento deles, a responsabilidade é do Estado, que deveria investigar para valer, e não encenar apurações.

As agências bancárias com vidros estilhaçados e as butiques dilapidadas costumam estar protegidas por seguros. Que seguro haveria de confortar os irmãos do pessoal morto na Maré?

Acadêmicos, jornalistas, autoridades e politiqueiros que não pronunciaram uma única sílaba sobre a Maré agora posam de valentões bradando contra a desordem no Leblon. Eles só saem em defesa dos mais ricos, os pobres que se danem. São covardes, não valentes.

Merece respeito o sofrimento de tantos antigos vizinhos meus que se assustaram com o pega pra capar. Mas a vida seguiu. Na Maré, para tantos pais, a vida seguiu sem seus filhos. Já cantou Chico Buarque, saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu _teria um quarto ou dormiria no colchão da sala o adolescente que mataram?

O farisaísmo não reconhece limites. Às vésperas do desembarque do papa, celebra-se a existência. Mas muitos corações, que nojo, abalam-se apenas com a perda de patrimônio, e não de vidas. O que diria Francisco?

O recado das últimas semanas é que, para muita gente, crime contra a vida não é nada diante de crime contra o patrimônio.

Isso não é só covardia. É barbárie.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Nosso blog citado no Marxismo21 como referência para as jornadas de junho.


O blog Marxismo21 fez uma excelente coletânea de textos e materiais diversos publicados na internet sobre as jornadas de junho e o dia 11 de julho. A coletânea organiza os materiais em 5 seções: Documentos e notas de entidades, blogs, artigos (por autor), multimídia e leituras complementares. E é com grande satisfação que vemos o Deve Haver Algum Lugar na lista de blogs relacionados pelo Marxismo21.

Confira aqui o que publicamos:

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Músicas para #ProtestoBr: #Vinagre by @iuskawolski


Nossa trilha sonora para os protestos juninos brasileiros tem a obrigação de ter como primeira faixa a música #Vinagre de Iuska Wolski. A não ser que alguém apresente algum video anterior ao dia 13 de junho que faça referência aos recentes protestos no país, a cantora Iuska leva o título de música que primeiro captou os sentimentos de protesto e os transformou em melodia. Sua canção #Vinagre faz referência à repressão policial em São Paulo que chegou a prender manifestantes pelo simples ato de portarem garrafas de vinagre.

Parabéns e nosso muito obrigado Iuska.


Muito cuidado se você esta pensando em comer uma salada em São Paulo
Na cidade onde um olho estourado com uma bala de borracha vale menos que lixeiras

Mantenha seus temperos bem guardados
ou vai ser condimentado
com spray de pimenta

Cuidado, presidenta
acho que a sua cozinheira
conspirou contra você!

O que é isso que ela usou para lavar a alface?

Vinagre, vinagre é o novo Anthrax

Por isso meu amigo vândalo
vagabundo, baderneiro
classe media, estudante

Quando o gás lacrimogênio
te fizer desmaiar
e bater com a cabeça no chão

Por favor seja
pisoteado na calçada
que é pra não atrapalhar

O transito de quem volta do litoral

Vinagre, vinagre é o novo Anthrax!

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Músicas para #ProtestoBr: Quem é você? by @detonautasRC


A banda Detonautas publicou hoje no YouTube sua contribuição à trilha sonora das manifestações que sacudiram o país nos últimos dias. Na música "Quem é você" os músicos destrincham uma série de preconceitos, falsas ideologias e costumes que ajudam a segurar as pessoas em suas poltronas na frente da TV ao invés de irem às ruas se manifestar. O clipe acompanha didaticamente a letra em cada momento representando ao fundo as cenas cantadas pelo vocalista Tico Santa Cruz e encerrando com a banda mostrando um cartaz "Quem é você" em frente ao Congresso Nacional.

Como nem tudo são flores a velha expressão machista de que você está sendo fodido acaba sendo utilizada pela banda no trecho "eles são o parafuso e você é a porca". É verdade que o "foder" como algo ruim é uma expressão popular, tal como o "chupa" tão comumente utilizado em especial nas redes socais. Mas isso não retira nem um pouco seu caráter machista.

De toda forma o clipe é muito bacana e vale bastante o play.




Você trabalha feito um burro de carga puxando um sistema podre que é bancado com o seu suor / E sexta-feira vai a igreja comungar com sua família a voz sagrada Jesus Cristo é o Senhor / Deixa parte do salário em retribuição a dádiva divina da palavra do pastor. / É melhor garantir um lugar no céu / Aqui nesse inferno tenta só sobreviver e o que salva é a cervejeira no fim de semana assistindo o jogo do seu time preferido na TV / Segunda-feira o seu filho tá em casa porque a escola onde estuda não tem nem um professor / E o professor esta na rua apanhando da policia tá cobrando seu salário do Governador / Enquanto isso numa casa confortável uma família abastada reunida assiste televisão / E praguejando fala mal de quem esta na rua enfrentando / E dando a cara pra lutar contra a situação! / Um fura fila que entrou na sua frente conseguiu ser atendido muito antes de você / E aquele cara que foi reclamar do caso chamaram de barraqueiro que não tinha o que fazer / A sogra dele há semanas na espera, vai pensando que já era, não consegue o leito em um hospital / E na favela aquela guerra continua traficante e policia no controle social!

Quem é você? Quem é você? Quem é você? Quem é você?

Tu fuma um Beck e é chamado de financiador por um senhor que toma uísque e bate na mulher / E nego enche a cara no fim de semana sai de carro dirigindo mata cinco e puxa o carro e sai de ré / A gente gasta são 6 meses de salário dando tudo pro governo e não tem quase nada em troca / E o governo vai tomando e gastando a parte dele eles são o parafuso e você é a a porca / Já passou 500 anos dessa história e não mudou tanto assim desde a colonização / A diferença é que hoje o colonizador é aplaudido num programa de televisão / A gente acha que um dia como se por um milagre Deus no auge da bondade fosse interceder / e enquanto esse diga não chega a gente vai aceitando e esperando alguma coisa acontecer

Quem é você? Quem é você? Quem é você? Quem é você?

O teu avô que trabalhou a vida inteira dia e noite noite e dia até se aposentar recebe agora uma miséria de salário fica 10 horas na fila esperando e não pode reclamar / Mas as crianças vão crescer e o futuro do Brasil por algum dia deverá ser bem melhor! / Só que o problema é que as crianças tão crescendo com seus pais longe de casa e mais ninguém a seu redor! / Eu não queria te dizer mas vou ter que falar tu é esperto mas tá sendo passado pra trás / Pode ser que quando tu percebas isso lá na frente já seja tarde demais

Agora dance! Agora dance / Mão na cabeça, mão no joelho
Fica de quatro, não pode parar / Agora dance / Dance
Mãozinha prum lado bundinha pro outro se finge de morto
mas não pare de dançar!mas não pare de dançar!"

Músicas de #ProtestoBr: Brasil em Cartaz by @thiagocorrea


E é claro que uma jornada de lutas e manifestações como a que vivemos recentemente não poderia passar em branco sem uma trilha sonora que a representasse. Uma das músicas dessa trilha sonora é a feita pelo artista independente Thiago Correa que juntou frases dos cartazes com palavras de ordem das manifestações e os musicalizou em "Brasil em Cartaz". A música subiu para o YouTube no dia 21 de junho e teve até o momento mais de 100 mil visualizações.

Seguem video e letra.



Saí do Facebook
Pra mostrar como se faz
E é tanta coisa
Que não cabe num cartaz

Brasil era um país muito engraçado
Não tinha escola, só tinha estádio
Ninguém podia protestar, não
Porque a PM sentava a mão

Brasil é o país do futebol
Porque futebol não se aprende na escola
Mas agora colocaram Mentos
Na geração Coca-Cola

E olha só
Que coincidência
Não tem polícia
Não tem violência

O transporte público
É pior que a Tim
Me chama de copa
E investe em mim

- Refrão -

Vem pra rua
Vem comigo
Mas seu guarda
Seja meu amigo

A bomba sobe
A gente abaixa
Me joga um halls
Odeio bala de borracha

The jiripoca is going to pew pew
Queremos formatar o Brasil
É uma vergonha, é uma vergonha
Passagem tá mais cara que a maconha

terça-feira, 2 de julho de 2013

Primavera partindo e as flores mais vermelhas ainda não vieram. E agora?


No último domingo encerrou-se o mês de junho e com ele possivelmente também demos adeus à primeira grande onda de protestos e manifestações nacionais dos últimos vinte anos. É só uma hipótese e como tal precisa ser comprovada a partir da prática na vida real, mas não temo em dizer que é das hipóteses a mais provável. Não digo que não veremos mais lutas no país, não, de jeito nenhum, até porque nunca se deixou de existir lutas no país. Diferente do que se costuma falar e noticiar, o povo brasileiro sempre lutou e muito, só que normalmente suas lutas sempre foram tratadas como caso de policia. Mas apesar de nossa história de lutas e da explosão de protestos dos últimos dias é preciso ter olhos pra ver e ouvidos pra escutar e assim perceber que toda aquela enorme energia de massas que presenciamos recentemente vem se dissipando. Já não se sente o perfume das flores em todo o país, se é que você me entende? Sim, ainda existem protestos ocorrendo inclusive no dia de hoje, como por exemplo, o de Belém e o de Vitória, mas possivelmente estamos entrando em uma nova fase de lutas localizadas, cada vez menores e menos radicalizadas.

Já se vão vinte dias desde o despertar de nossa primeira onda, o dia 13/06, uma quinta-feira para entrar na história quando uma manifestação contra 20 centavos com cerca 5 mil pessoas foi duramente reprimida pela policia militar de São Paulo. Antes do dia 13 houve sim muitos protestos em São Paulo e, diga-se de passagem, com milhares de pessoas nas ruas, mas as cenas do vandalismo policial, inclusive contra jornalistas, bombardeadas tanto pela grande grande mídia como pelas redes sociais na sexta, no sábado e no domingo fizeram um sentimento nacional de descontentamento com o país estourar em protestos verdadeiramente continentais. Mais de 270 mil pessoas foram às ruas na segunda-feira, dia 17/06, em cerca de 30 cidades do país. No dia seguinte, 18/06, quatro cidades anunciaram redução na tarifa de transporte público e a presidente Dilma Roussef fez seu primeiro pronunciamento sobre as manifestações se dizendo atenta ao clamor das ruas. Na quarta, dia 19/06, foi a vez de São Paulo e Rio de Janeiro recuarem do aumento da tarifa. No dia, 20/06, uma semana após o grande ato de vandalismo policial paulista, cerca de um milhão e quatrocentas mil pessoas ocuparam as ruas em mais de 130 cidades em todo o país. Ali atingimos o ponto alto das manifestações e a partir daí governo federal, câmaras dos deputados, governos municipais, câmaras dos vereadores iniciaram um movimento para acalmar as ruas: a PEC 37 foi amplamente rejeitada no parlamento, Dilma passou a reunir com vários setores da sociedade, corrupção passou a ser crime hediondo, os royalties do petróleo foram encaminhados para as pastas da saúde e educação e até o projeto da "Cura gay" foi arquivado.

Apesar dos avanços e até mesmo por causa deles nunca mais vimos nada parecido com as manifestações do dia 20/06 ou mesmo do dia 17/06. Na quarta, dia 26, foram 83 mil pessoas em 57 cidades, sendo que 50 mil foram somente em BH que recebia a partida Brasil e Uruguai da Copa das Confederações. Na quinta, dia 27, foram 33 mil em 38 cidades. Na sexta, foram 27 mil, em 50 cidades. Isoladamente a maioria das manifestações vem voltando ao patamar anterior ao do dia 13/06, variando em torno de 5 mil pessoas.

Tudo indica que nossa primavera está partindo e o pior de tudo é que nossas mais belas flores, aquelas vermelhas que nascem das fábricas, canteiros e ocupações, simplesmente não desabrocharam. E agora o que fazer? Bem... uma coisa é certa não será simplesmente marcando um dia para que elas desabrochem que se iniciará uma segunda onda, ainda mais gigantesca e violenta que a primeira. Nada disso. Flores precisam ser cultivadas. 

Eike e Dilma chegam à mesma conclusão (#charge de @AmarildoCharges)


Mais charges de Amarildo aqui.