quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Impeachment: o discurso que une golpistas e governistas

E já se foram quase nove meses do quarto mandato do petismo no governo federal e um dos temas mais recorrentes durante esse período foi o da possibilidade de impeachment. O assunto tornou-se quase que como um samba de uma nota só: surgiu denúncia de corrupção na Petrobrás, impeachment; pedaladas fiscais, impeachment; aumento no preço da gasolina, impeachment; alta do dólar, impeachment. Na última semana a "Standard & Poor's" rebaixou o grau de investimento do país e o que veio logo em seguida? "O governo da Dilma acabou",  "o governo corre o risco de não concluir o mandato" e "melhor acabar com o desastre do governo Dilma agora do que esperar mais 3 anos". Ou seja, impeachment, impeachment e impeachment. E não pensem que tal discurso é somente da "burguesia golpista". O próprio governismo também faz questão de divulgar que o perigo está logo ali na esquina e que é preciso "defender a democracia" a qualquer custo.

Mas será que o "impeachment" de fato está em questão? Por que se estiver meus amigos, é preciso que toda a esquerda socialista ajuste sua linha para não só se posicionar contra mas como também resistir à interrupção do governo de Dilma Rousseff. Existe alguma dúvida em relação a isso? Qualquer impedimento ao governo petista será feito não por questões de crime de responsabilidade mas por pura perda de apoio no Congresso Nacional, o que configurará nada mais, nada menos, do que um atentado contra o tal "regime democrático de direito", leia-se, um golpe. Um golpe ao estilo paraguaio, é verdade. Bem diferente daquele que os mais exaltados das marchas dos coxinhas gostariam que fosse, mas ainda assim será um golpe.

Mas será que para nós, trabalhadores, existe real problema no parlamento burguês destituir o governo burguês de plantão e colocar em seu lugar um outro governo burguês? No fim das contas, não é tudo a mesma coisa? Afinal, ora bolas, o projeto de Dilma e do PT são ou não são idênticos ao projeto de Aécio e do PSDB? Não é exatamente por isso que parte da esquerda socialista defende a linha do "Nem-Nem" e do "Chega de Dilma, PT, PSDB"? Será que de fato não seria melhor destituir logo Dilma que ataca os trabalhadores e ao menos assim conseguir uma trégua para reorganizar o movimento operário e popular?

A resposta a todas essas perguntas pode ser obtida respondendo a uma outra questão: quem sairá mais fortalecido com a cassação de Dilma? Ora, nos termos que estão postos a destituição de Dilma será nada mais nada menos do que uma prova de força da oposição burguesa. E se ela sai mais forte, mais forte ainda sai seu projeto.

Mas assim como engana-se quem coloca sinal de igual entre Dilma e Aécio, engana-se ainda mais, quem se deixa levar pelo discurso histérico de lá vem o golpe. Não existe interesse na grande burguesia na queda de Dilma. O Itaú não quer, Bradesco também não, muito menos FIESP e FIRJAN. Existe interesse desses em "ajuste fiscal" e "reformas estruturais". Leia-se corte de verbas nas áreas sociais e serviço público e ataques aos direitos dos trabalhadores. Mesmo os que muito defendem interromper o governo Dilma, o que querem mesmo é que o governo seja ainda mais duro nos cortes que já vem fazendo. Ou seja, no fim das contas, o tal discurso pelo impeachment não passa de pura chantagem. Chantagem da oposição burguesa, para que o governo pare de ser "populista" e "bonzinho" e também chantagem do governismo, para justificar aos movimentos sociais que precisa "cortar na própria carne" para seguir governando.

Aqui é preciso muito cuidado e atenção da esquerda socialista. Não está em questão defender o governo Dilma de um possível golpe, porque simplesmente ele não existe. Mas está em questão sim, lutar contra os ataques às condições de vida da classe trabalhadora. É preciso ter a coragem para chamar unidade para lutar sendo capaz de identificar o que de fato unifica os trabalhadores e movimentos sociais sendo capaz até mesmo de arrastar às ruas parcelas do governismo. Chega de cortes sociais e ataque aos direitos do povo pobre e trabalhador! Nem ajuste fiscal do Levy, nem agenda Brasil do Renan, nem muito menos cortes no orçamento pra satisfazer banqueiro! Que os ricos paguem pela crise!