terça-feira, 27 de agosto de 2013

A cara de médico dos cubanos, a cara de domésticos dos negros e negras e a cara de pau da classe média brasileira


A jornalista potiguar Micheline Borges não se aguentou em si mesma e deixou escapar o sentimento tão reprimido sobre a imensa resistência em receber médicos cubanos no país. Comentou como quem não queria nada em sua conta de Facebook:
"Me perdoem se for preconceito, mas essas médicas cubanas têm uma cara de empregada doméstica. Será que são médicas mesmo? Afe, que terrível. Médico, geralmente, tem postura, tem cara de médico, se impõe a partir da aparência. Coitada da nossa população. Será que eles entendem de dengue? E febre amarela? Deus proteja O nosso povo!"
É preciso parabenizar Micheline. Dificilmente em uma única postagem uma pessoa comum conseguiria expressar tão bem o monstruoso preconceito tão enraizado em especial em nossa "querida" classe média. A primeira pergunta já dá o tom do que está por vir: "Me perdoem se for preconceito". Ninguém que não vá se lambuzar no lixo de qualquer manifestação preconceituosa começaria uma frase assim. Inconscientemente ou não, Micheline já sabia que o que estava por dizer seria tido como errado. Não que ela considerasse errado. Mas no mínimo ela sentia que estava por cometer um delito que para ela era incontrolável.

"Essas médicas cubanas tem uma cara de empregada doméstica"! Pronto! Tá falado e é isso mesmo: As tais médicas importadas são a cara da dependência de empregada! E como isso poderia ser possível? Estamos importando médicos e trazemos logo essas "neguinhas" sem graça. Que coisa mais desqualificada, não é mesmo? Ao menos fossem brancos, loiros, altos e de olhos claros, meio assim sabe, com "cara de médico".

Fico imaginando o quanto escrever essa simples frase deve ter proporcionado um alívio quase que imediato à jornalista, meio como quem tira uma verdadeiro peso das costas.

Agora me digam vocês se essa não é uma verdadeira pérola da mais fina flor do preconceito. Em uma única postagem é possível captar racismo, xenofobia, machismo e em especial o preconceito contra a pobreza No Brasil lugar de mulher negra não pode ser em hipótese alguma em consultórios e hospitais. Seu lugar é na cozinha, servindo e limpando a sujeira da branqueza real.

Não são poucos os que pensam assim. Verdade seja dita, essa ideologia escravocrata não é um privilégio de Micheline. Tanto é assim que no nosso bom Ceará, terra da luz, o primeiro estado a ter um de seu municípios a abolir a escravidão, os primeiros médicos cubanos foram escrachados em um corredor polonês aos gritos de "escravo, escravo" e "voltem para a senzala". "Escravos" por receber uma bolsa de 10 mil reais em que 3 mil ficarão com o governo cubano e outros 2 mil serão encaminhados para as famílias dos médicos. "Voltem para a senzala" porque são negros e lugar de negro em nosso bom Brasil brasileiro, para nossa "querida" classe média ainda é na senzala.

Mas Micheline tanto quanto os médicos racistas cearenses que se deram ao desserviço de achincalhar os cubanos tiveram a ousadia de dar corpo e voz ao preconceito de nossa classe média. Se os cubanos não tem cara de médicos e sim de empregados domésticos por serem negros, Micheline e os tais médicos tem muita cara de pau de manifestar todo seu ódio de classe.

Particularmente nós temos muito a agradecer a eles por se exibirem de forma tão escancarada. Só assim temos como exigir que sejam devidamente processados e presos por terem cometido crime inafiançável. Cadeia neles!

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