terça-feira, 6 de dezembro de 2011
"Companheiro": um mero pronome de tratamento?
Por mais incrível que possa parecer, a palavra "companheiro" já teve um significado mais profundo do que a de um mero pronome de tratamento. Digo "incrível" pois em especial em nosso Brasil brasileiro, onde até Bush já foi chamado de "companheiro" pelo ex-presidente metalúrgico, parece no mínimo insólito crer que haja algo mais profundo escondido nessas onze letras.
Já em seus tempos de sindicalismo "radical" o Partido dos Trabalhadores "radicalizava" tanto o uso do título "companheiro" para se referir a todo e qualquer ativista e sindicalista (as vezes mesmo sendo ele um ultra-pelego de carteirinha) que o sentido da palavra mais se aproximava de uma forma diferente de chamar as pessoas, tal como "meu chapa", "meu patrão", "meu querido" ou qualquer outra coisa do gênero. Virou um jargão no meio de tantos outros. Mas foi na esfera palaciana do poder que Lula e seus partidários deram o significado tão almejado ao "companheirismo". Todo e qualquer empresário governista passou a receber a alcunha de companheiro esvaziando o mínimo caráter de distinção de classe que carregasse o termo.
Mas nem sempre foi assim.
A palavra companheiro tem sua origem no latim. Vem de "cum" + "panis", ou "com" + "pão", retratando a relação entre pessoas que dividiam o mesmo pão. Tratavam-se por "companios" os escravos da antiga Roma, aqueles despossuídos de quaisquer direitos, bens e propriedades, e ainda assim capazes de dividir o parco pão que produziam com seu próprio suor. A palavra encerra em si, um profundo significado moral relacionado com laços de confiança. Isso porque não se divide o pouco pão que se tem à mesa com aquele que é capaz de lhe atraiçoar ao primeiro virar de costas. Muito diferente não?
Mas seria injusto atribuir a tão somente o PT o papel de deformador do significado do companheirismo antes tão caro em especial à esquerda revolucionária. Quantos sindicalistas não petistas chamam os trabalhadores de sua base de companheiros mas nos escritórios patronais acertam os detalhes sórdidos de acordos que vendem os direitos de sua categoria? Quantos ainda ensaiam greves, se colocando inclusive à frente delas para em seguida utilizar do prestígio alcançado e encerra-la com golpe certeiro? Quantos militantes de esquerda, partidária ou não, já deixaram de se sentir verdadeiramente confortáveis em suas organizações, vítimas de interesses dos mais mesquinhos, de conluios, conchavos, assédios, intimidações e tantas outras traições?
É realmente uma pena que a recente história da luta de classes tenha vitimado o profundo sentimento de confiança necessário para todo aquele que sonha e luta por um mundo melhor.
Mas um dia, quem sabe, a palavra "companheiro" deixará de ser um mero pronome de tratamento.
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