Não sou do PSOL nem eleitor do vereador João Alfredo mas quero deixar registrado meus parabéns pela intervenção feita por ele no III Congresso do seu partido que está publicada no YouTube. Devo admitir que acho absolutamente nonsense o discurso do "Ecosocialismo" mas para um "ecosocialista" coerente não há outro caminho sensato que não o de defender a independência de classe. João Alfredo fez isso ao lado de Camila Valadão que defendeu a sempre essencial e inadiável luta contra o machismo. Então antes de mais nada, parabéns João.
Mas para além dos desacordos com o discurso do ecosocialismo ou dos acordos com a independência de classes é preciso saber ouvir as palavras do vereador e enxergar por trás delas o debate profundo que carregam. O que está registrado no video é o debate de para onde tem ido a esquerda brasileira, em especial aquela que ao menos se diz revolucionária e socialista.
Partidos voltados para garantir vitórias eleitorais, sejam elas de parlamentares ou de diretorias de sindicatos, correm permanentemente sobre o fio da navalha de serem soterrados pelo sistema, seja de forma intencional ou "inocente". E o caminho da esquerda brasileira tem sido tragicamente este, o de ser engolidos pela "democracia" e seus limites, deixando o debate da estratégia socialista e suas ferramentas necessárias para "depois do carnaval".
Para quem não sabe, lá pelos idos de 2003, setores da esquerda do PT foram expulsos por terem sido contra a reforma da previdência do governo Lula. Naquele momento uma oportunidade se abriu para unir os setores de esquerda em uma organização capaz de enfrentar com a força necessária, ou pelo menos um pouco maior, o governo de Frente Popular de Lula, explicando pacientemente ao povo pobre e trabalhador que o ex-metalúrgico governava e seguiria governando para os ricos. Optou-se por um novo partido, o PSOL, com ex-militantes da esquerda do PT e ex-militantes do PSTU que uniram-se em torno da candidatura de Heloisa Helena. Praticamente se reeditou a tese do "Feliz 1994", quando o PT deixou Itamar governar de olho nas eleições. E infelizmente a possibilidade do debate estratégico foi jogada muito para frente.
Em 2006 outra oportunidade se abriu forçada pelo calendário eleitoral e a aliança eleitoral entre partidos como PSOL, PSTU e PCB ao redor de Heloisa Helena foi forjada. Mas ao invés de permitir que o debate estratégico sobre o socialismo fosse feito com a profundidade, a franqueza e a dureza necessárias, a aliança mostrou-se mais como eleitoreira que eleitoral. Lula venceu, muito pouco se elegeu, nada ou quase nada se fortaleceu nas posições de esquerda e cada um seguiu seu caminho sem nem sequer fazer o esforço necessário para se discutir o passado recente, muito menos o futuro que já se mostrava presente. Honestamete, teria sido muito melhor que tivessem marchado sozinhos afirmando suas identidades e programas.
Em 2010 uma terceira vaga se abriu. Primeiro pela possibilidade do chamado Congresso da Classe Trabalhadora e em seguida pelo debate eleitoral. Foi desperdiçada mais uma e outra vez. E enquanto cada um apontava para a trave no olho do outro, Lula concluiu seu mandato como o grande salvador da pátria e entregou a faixa presidencial à Dilma para que seguisse seu legado de governar para os ricos.
Agora, a crise econômica está aí se espalha com toda sua força mundo afora e podem ter certeza que chegará ao Brasil. As novas reformas neoliberais virão, assim como já estão aí Belo Monte; o assassinato de lideranças camponesas e indígenas; a precarização do trabalho com cara de modernidade e o achatamento salarial com todo jeitão de melhoria de vida. Enquanto isso, mais um partido direitoso de pseudo-esquerda começa a nascer e a classe trabalhadora brasileira segue carente de uma alternativa revolucionária e socialista à altura dos seus desafios e capaz de entender e empalmar seus anseios, os transformando em um programa capaz de envolver mentes e corações.
Que pena!
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