quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O chamado a "Eleições Gerais" neste instante é ou não um erro?

E quando se pensava que o ano estava acabando e nada de novo poderia ganhar grande notoriedade para além da emocionante luta dos estudantes secundaristas de São Paulo, eis que todos os holofotes se voltam para Brasília. O presidente da Câmara dos Deputados e achacador-mor da República, Eduardo Cunha (PMDB) acatou a admissibilidade do pedido de impeachment da presidenta Dilma Roussef. Fez isso, no mesmo dia em que deputados do PT finalmente e após grande relutância assumiram a posição de que não o defenderiam no Conselho de Ética na votação sobre a admissibilidade do processo contra Cunha. No fim, seu ato foi pura retaliação em um movimento que tem o sentido primeiro de protelar quaisquer decisões do Conselho de Ética que poderiam levar à cassação de seu mandato e uma possível prisão.

Essa politica pequena, cheia de artimanhas e imundices que dá nojo a qualquer um, apesar de não trazer nenhum ar de entusiasmo aos que lutam por um mundo melhor, merece e muita nossa atenção porque dela temos muito desdobramentos que afetarão diretamente a vida em especial dos trabalhadores brasileiros.

Antes de mais nada é preciso entender que o que está em curso no Planalto Central é sim, um golpe. Não um golpe com os tanques nas ruas a la 1964 mas um golpe parlamentar. É bem verdade que não existe interesse da grande burguesia nacional ou internacional, muito menos da Casa Branca, em um processo de interrupção do governo Dilma em meio a uma grande crise econômica mundial. Mas Eduardo Cunha à frente do Congresso Nacional é um elemento absolutamente imponderável no cenário político brasileiro e sequer escrúpulos tem para jogar às favas. Sendo assim, o golpe ou ao menos sua tentativa, está sim em curso.

Mas se está previsto na Constituição por que seria um golpe?

Simplesmente porque não existe motivo plausível para um impedimento por dentro das regras normais do jogo democrático burguês. As tais pedaladas fiscais nem de longe são razão para tanto. Se fossem FHC não poderia ter completado seu mandato e Temer também precisaria ser impedido. No fim das contas a questão não é técnica ou legal, é política. O governo não governa, não tem apoio do parlamento, nem muito menos popularidade, mas nada disso é motivo para impeachment. Poderia ser motivo para os trabalhadores tomarem as ruas, fazer greve geral e assim fazer cair o governo através de um renúncia. Mas para impeachment de fato não há base.

Então, estamos diante de um golpe e ponto. Não que ele vá ser vitorioso, até porque não existem votos suficientes na oposição de direita para impô-lo (são necessários 2/3 dos deputados e o governo tem um pouco mais de 1/3 a seu lado), mas devemos ter ao menos o cuidado de chamar as coisas por seus nomes.

Mas será que no fim das contas o resultado do golpe seria ruim para a classe trabalhadora brasileira? Não seria melhor logo dar um fim nesse governo inerte e colocar um outro no lugar? Será que até mesmo para destravar as lutas não seria interessante deixar de ter o PT e a figura do Lula, com a UNE, UBES, MST, CUT e um monte de sindicatos funcionando como camisa de força das lutas sociais? Será que não estamos diante de um daqueles males que vem pra bem?

A resposta é sinceramente um grande NÃO.

O fato de sabermos que Dilma governa para os ricos não quer dizer que seu governo é simplesmente igual a qualquer outro governo burguês. Nenhum governo burguês é igual ao outro, simples assim. Existem, por exemplo, governos com mais ataques às liberdades democráticas e governos com menos ataques. Isso não quer dizer que eles deixam de ser burgueses porque por exemplo, apoiam a legalização da maconha, a legalização do aborto ou o casamento homossexual. Nada disso. Não é isso que determina seu caráter de classe. O governo Dilma é terrível e precisa ser derrotado, mas não é possível que tenhamos dúvida que um governo Temer será pior e um governo Cunha, ainda mais. Tirar Dilma e deixar assumir Temer ou Cunha é defender que os trabalhadores sejam ainda mais atacados. É preparar um imenso infeliz 2016 com uma nova reforma da previdência, privatização da Petrobras, privatização do SUS, privatização da rede pública de ensino, aprovação do PL 5069 e por aí vai. Ou seja será levar à hipervelocidade a precarização da vida do povo pobre e trabalhador do país.

Nada mais justo pensar então que neste cenário o correto é chamar o FORA TODOS e novas eleições gerais, não é mesmo? Não, não é. Palavras de ordem precisam levar em consideração a correlação de forças e não levantamos palavras de ordem deste tipo, palavras de ordem para a ação, se não houver como colocá-las em ação. Levantar a hipótese de eleições gerais neste momento, onde não está em curso nenhuma grande mobilização popular para derrotar o governo, é simplesmente abrir a possibilidade que o atual Congresso reacionário seja substituído por outro ainda mais a direita.

Quanto ao PT, CUT e companhia é preciso que se diga que NÃO há como resgatá-los para as lutas sociais. Em outras palavras isso significa dizer que eles seguirão sendo camisas de força, ainda que por fora do governo. O melhor local para enfrentá-los e varrer sua influência sobre o movimento de massas é exatamente onde eles estão: no governo central. Mas é preciso a política certa para enfrentar um governo desse tipo e simplesmente torcer para que eles saiam do governo, seja derrotados em eleições, seja golpeados pela direita parlamentar, é de fato se negar a fazer política, se abster da tarefa de derrotá-lo, é seguir dando-lhes sobrevida. A classe trabalhadora merece muito mais do que isso.

A esquerda socialista não pode apressar-se em apontar quaisquer consignas mirabolantes. Pés firmes no chão e olhos para frente. É preciso entender os perigos e hierarquizar as tarefas que nos impõe a realidade. Partir da negação ao golpe parlamentar, chamar o povo a seguir engrossando o sentimento de Fora Cunha, construir nas ruas as derrotas ao ajuste de Dilma/Temer/Levy somando-se às lutas reais como a dos secundaristas de São Paulo e chamar a não se depositar nenhuma confiança nesse governo de arrocho, retirada de direitos e desemprego. Esse sim, é um bom caminho.

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