quarta-feira, 27 de março de 2013

O dia em que uma jovem apache impediu a premiação da máfia


Noite de 27 de março de 1973. Marlon Brando é indicado ao oscar de melhor ator em O Poderoso Chefão, mas ao invés dele, uma jovem de 26 anos trajando roupas tradicionais indígenas é quem se dirige ao palco. Meio sem jeito Roger Moore lhe oferece a estatueta para ficar ainda mais desconcertado com sua recusa. A mulher apresentada como Sacheen Littlefeather (Sachen Pena Pequena) tinha em suas mãos uma carta de Marlon Brando esclarecendo sua ausência e recusa ao prêmio, que não pôde ser lida em função da ameaça da indígena sair do local algemada. Em seu lugar, Pena Pequena fez a seguinte declaração:
Olá. Meu nome é Sasheen Littlefeather. Eu sou Apache e eu sou presidenta do Comitê Nacional de Imagens Afirmativas dos Nativos Americanos.

Estou representando Marlon Brando esta noite e ele pediu-me para lhes falar em um  discurso muito longo, que não poderei compartilhar com vocês hoje, por causa do tempo, mas ficarei feliz em compartilhar com a imprensa depois, que ele com muito pesar não pode aceitar este prêmio muito generoso.

E a razão para isto é o tratamento dado aos índios americanos hoje pela indústria cinematográfica - desculpe-me - e na televisão, em filmes regravados, e também com os acontecimentos recentes em Wounded Knee.

Rogo para que neste momento não seja vista como uma intrusa nesta noite, e que no futuro, nossos corações e os nossos entendimentos possam se reunir com amor e generosidade.

Obrigado em nome de Marlon Brando.
O discurso que Brando havia preparado era obviamente muito maior. Foi substituído por uma declaração que não poderia superar em hipótese alguma o tempo de 1 minuto. Em determinado momento a ativista calou-se, sendo vaiada por uns poucos e aplaudida por outros. O episódio foi reproduzido na grande imprensa obviamente de forma muito negativa. Em pouco tempo veio a notícia de que Sacheen não era Sachhen, que era na verdade Marie e que não era indigena coisa alguma e sim uma atriz contratada por Marlon Brando.

Marie Louise Cruz, esse era o nome da mulher, pelo menos seu nome de batismo. E sim, ela era uma atriz que em 1973 participou de seu primeiro filme, o Conselheiro do Crime (Il Consigliori). Mas da mesma forma ela também era Pena Pequena e uma ativista do movimento indígena, e agora havia protagonizado o primeiro ato de protesto político da história do Oscar, colocando a revolta de Wounded Knee no centro das atenções de toda a imprensa, quando aquilo que mais queria o governo Nixxon era exatamente mantê-lo bem escondido. Naquela mesma noite centenas de indígenas que ocupavam o pequeno distrito de Dakota do Sul exigindo respeito ao direito de viver em suas terras estavam cercados por agentes do FBI armados até os dentes. O cerco durou 71 dias, com um saldo de 2 mortes e mais de 500 presos e feridos, encerrando-se com mais uma rendição por parte dos povos indígenas e mais um acordo não cumprido por parte do governo federal dos EUA.

Passados quarenta anos, hoje, outro governo federal está disposto a enfrentar povos indígenas para explorar as terras onde eles nasceram. Mas ao invés de Wounded Knee e Richard Nixxon, o lugar é Belo Monte, e a presidenta que está disposta a massacrar direitos e vidas dos indígenas é a petista Dilma Roussef. Ao que tudo indica a história se repetirá como uma imensa tragédia, sem o glamour do protesto de um Marlon Brando, mas com tanta coragem quanto, ou quem sabe ainda mais do que a que protagonizou a jovem apache que impediu a premiação da máfia.

Abaixo o video com o momento em que o Oscar não foi entregue:

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