terça-feira, 3 de março de 2015

Não é por ser tático que é sem importância

Tática e estratégia são conceitos muito importantes utilizados pelo marxismo que são sacados diretamente da ciência militar e que via de regra são muito incompreendidos. Do ponto de vista do português usual, não existe menor problema em usar por exemplo a expressão "precisamos pensar uma estratégia para atingir nosso objetivo". Já do ponto de vista militar a estratégia é o próprio objetivo e não os meios para atingi-los, que por sua vez recebem a alcunha de táticas.

Neste ponto, muitos podem ser induzidos a outra confusão, que é a de menosprezar as táticas na medida do que aquilo que realmente importa é a estratégia. Uma meia verdade, já que de fato a estratégia é sim o que importa. Mas meias verdades, como dizem os chineses, não passam de mentiras inteiras. Como nem toda tática leva a estratégia, táticas erradas podem exatamente conduzir ao caminho oposto ao da estratégia. Toda vez que algum ativista do movimento, diante de um questionamento sobre sua política, saca a máxima do "ahhh... isso é tático", logo o que me vem a cabeça é que ou falta honestidade para admitir um erro, ou falta humildade para enxergar que não se tem a menor ideia do que se está fazendo.

O trotskista argentino Nahuel Moreno, em seus Conceitos Políticos Básicos de 1986, esclarece a interrelação entre ambos elementos localizando que eles são termos relativos.
"Ou seja, sempre temos que definir em relação a quê uma questão é estratégica e em relação a quê uma questão é tática.Esse caráter relativo dos dois conceitos faz com que o que é estratégico numa determinada etapa ou tarefa parcial, seja ao mesmo tempo tático em relação a um objetivo superior ou mais geral."
E para deixar mais claro, ele exemplifica a forma como estratégia e tática estão intimamente ligados:
"...numa etapa de retrocesso das lutas operárias, podemos dizer que temos a estratégia de desenvolver lutas sindicais defensivas, e que em relação a essa estratégia, a tática pode ser, por exemplo, uma greve longa e não outras táticas, como a ocupação de fábrica, por exemplo. Mas a greve longa é uma estratégia em relação à táticas, ao meio que usamos para garanti-la, como por exemplo, a organização de piquetes. E os piquetes passam a ser uma estratégia em relação à táticas que usamos para construí-lo (se são públicos, eleitos em assembléia, ou clandestinos, eleitos secretamente pelo comitê de greve). E a própria estratégia pela qual começamos, o desenvolvimento de lutas sindicais defensivas, torna-se uma tática em relação a nosso objetivo estratégico, que é obter vitórias importantes que ajudem a transformar a etapa de retrocesso em uma etapa de ascenso do movimento operário."
Em nenhum momento Moreno desdenha das táticas como sendo algo menor. Muito pelo contrário. Até mesmo porque táticas erradas no fim das contas conspiram contra a estratégia.

Entregar rainha, bispos, cavalos e torres em um jogo de xadrez pode até ser uma boa tática para salvar um rei, mas não necessariamente é a melhor para derrubar o rei do adversário.

Bem.... se por um acaso da vida for você o sorteado a ouvir o velho "isso é tático" vale devolver ao sabichão um bom "é verdade meu amigo, mas de qual estratégia estamos falando mesmo?".

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