segunda-feira, 15 de julho de 2013

Uma primeira análise daquilo que foi e do que não foi o 11 de julho.


O dia 11 passou. Milhares de pessoas tomaram as ruas em várias cidades do país. Algumas delas com números poderosos como os 15 mil de Natal e os 20 mil do Rio de Janeiro. Na cidade operária de São José dos Campos, várias fábricas paralisaram suas atividades. Por todo o país, em torno de 50 estradas foram bloqueadas em especial pelo MST. São Paulo colocou em torno de 8 mil pessoas na avenida Paulista numa grande marcha. Difícil falar em números mas é provável que mais de duzentas mil pessoas tenham participado do dia nacional de luta. Pela primeira vez um ato unitário das oito centrais sindicais brasileiras, partidos de esquerda e movimentos organizados proporcionaram um importante marco para o movimento operário e sindical do país.

Para muitos dos que participaram da construção do ato talvez tenha sido a maior atividade de suas vidas. Também não é pra menos. Estamos há 10 anos e meio de governos petistas, e antes disso, outros dez anos de governos declaradamente burgueses em que fundamentalmente o PT serviu de freio à luta de classes no país. A última grande manifestação nacional, desconsiderando as imensas jornadas de junho, ocorreu em 1992, por ocasião do Fora Collor. A última grande greve geral ocorreu em 1991 com a participação de 20 milhões de brasileiros. Antes dela, tivemos a greve de 1989 com 35 milhões de brasileiros mobilizados e com um apoio de 70% da população. Eram outros tempos, a inflação e o desemprego viviam rondando as famílias do país. E quando falo de inflação não me refiro ao aumento do preço do tomate nos dias recentes. Era coisa de algo ter um preço hoje e outro amanhã. Mas, de lá pra cá, pós plano real, o controle da inflação e a política de vale tudo para eleger Lula presidente, não tivemos mais grandes atos de repercussão nacional. Talvez nem mesmo o movimento pelo Fora FHC que colocou 100 mil em Brasilia em 1999 tenha tido uma amplitude tão grande e coordenada quanto o último 11 de julho.

Dito isso, é importante sabermos o que foi e o que não foi nosso último dia nacional de luta. Pontuemos:  

1. As grandes massas que participaram das jornadas de junho, em especial a juventude, não atenderam aos chamados das centrais e não tomaram as ruas, nem muito menos cruzaram os braços se negando a trabalhar. As lutas de junho e o 11 de julho apesar de próximos não fazem parte da mesma coisa. O que aconteceu em junho, centralmente ficou em junho.

2. Apesar da propaganda das centrais de que colocariam dois milhões de pessoas nas ruas, o que superaria em quantidade, o dia com mais gente na rua nas manifestações de junho, a quantidade de pessoas paradas não chegou nem perto de número tão ousado.

3. Não houve uma greve geral no país nem muito menos o Brasil parou. A imensa e estúpida maioria da classe trabalhadora manteve sua rotina e os batalhões pesados do proletariado brasileiro infelizmente não entraram em cena.

4. As principais centrais e até o MST não mobilizaram com força suas bases, seja por uma atitude deliberada para não fazê-lo, seja por crise de representatividade mesmo.

Todos esses pontos merecem que os ativistas sérios analisem com cuidado as razões por trás de cada um deles. Não está em questão aqui o quanto um ou outro ativista se jogou na construção do dia 11 de julho. Também não está em questão, por mais que seja extremamente importante, o quanto os trabalhadores que resolveram parar suas atividades na última quinta estejam correndo risco de represálias por seus patrões. O que está em questão é o futuro do movimento de massas brasileiros. Dar uma roupagem mais pomposa ao que foi o dia 11 o fará parecer com aquilo que ele não foi e nos levará a apostas erradas daqui pra frente, o que, por sua vez, poderá nos fazer atrasar ainda mais um levante da classe trabalhadora no país.

Analisemos então:

1. O que aconteceu em junho foi uma explosão de descontentamento de uma camada do proletariado urbano muito jovem que não reivindica as centrais e seus sindicatos porque via de regra esse tem se negado a representá-los. Caso o dia nacional de luta dos trabalhadores tivesse ocorrido uma ou mesmo duas semanas antes, teríamos sim um quadro completamente distinto no país. Mas tendo ocorrido praticamente um mês depois, a grande energia dos protestos de junho já havia sido dissipada. Colocar um sinal de igual entre um movimento e outro não ajuda a dialogar com aqueles que estiveram no centro do primeiro.

2. Apesar da disposição de ir às ruas das centrais e do programa mais que justo que vai desde a redução da jornada à reforma agrária, a imensa maioria dos trabalhadores não vai às ruas porque ainda não se vê empurrada a fazer isso. É preciso condições objetivas que levem os trabalhadores às lutas. Além disso é bom lembrar que a imensa maioria das centrais sindicais são governistas e/ou arqui-pelegas. Mentem descaradamente a todo momento e para todos. Não é possível confiar no que elas dizem que vão fazer simplesmente porque estão dizendo.

3. Uma greve geral pressupõe ou uma explosão espontânea só imaginável por condições de deterioração econômica e social em grande escala ou um nível de organização da classe trabalhadora nacional em um patamar muito elevado. Não temos ainda nem uma coisa nem outra. Antes de mais nada é preciso que a classe recupere a confiança em suas próprias forças, qualidade que foi minada por dentro tanto pelo movimento sindical governista como pelo governo petista. Vender que o primeiro ato nacional da classe dos últimos vinte anos em nosso país tomaria dimensões de greve geral chega a ser criminoso porque ao invés de ajudar a recuperar a auto-confiança dos trabalhadores chega a jogar água no moinho da desmoralização da classe. Pelo bem dos trabalhadores é preciso jogar exageros e impressionismos na lata do lixo.

4. Os dez anos de colaboração de classe do governo de Frente Popular obviamente tem seu peso e parte dele foi mostrado agora. As grandes centrais tornaram-se grandes aparatos que simplesmente não podem cumprir seu objetivo até o final, seja por estarem atreladas ao governo, seja por auto-preservação. O dia 11 de julho para elas foi expressão exatamente desses dois sentimentos. Parte se dispôs a ir às ruas para de uma suposta forma independente defender Dilma, que de segunda mulher mais importante do mundo passou a ser questionada por todos e pode inclusive perder o apoio do PMDB. Ir às ruas é de certa forma mostrar à burguesia e seus partidos que abandonar Dilma seria empurrá-la para os braços da classe trabalhadora o que pode ser muito pior para eles. Outra parte, como a FS, foi às ruas por acreditar que novos levantes como o de junho podem vir a acontecer e caso a classe trabalhadora vier a participar deles, sua própria pele corre perigo, por isso preferem se antecipar, se postular como dirigentes e assim conseguir afastar a fúria da classe de seu peleguismo de sempre.

Pois bem. O dia 11 passou. É preciso aprender com ele. Um novo dia nacional e unificado de luta foi marcado para 30 de agosto. Construí-lo com fervor mas sem impressionismos, com dedicação mas sem nenhuma confiança nos pelegos e governistas, eis a tarefa dos militantes honestos de nosso país.

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