domingo, 1 de abril de 2012

Pelo fim do primeiro de abril de 1964. Pelo direito à verdade. #DesarquivandoBR


Há exatos 48 anos, em primeiro de abril de 1964, as forças armadas brasileiras aplicaram um golpe militar e derrubaram o governo democraticamente eleito de João Goulart, vice de Jânio Quadros, que renunciara em 1961. Daquele primeiro de abril até o ano de 1985 o Brasil foi governado por militares. Foram 21 anos de ausência do chamado "estado democrático de direito". E sim, o dia foi de fato primeiro de abril. Exatamente na data mundialmente conhecida como dia da mentira ou dia dos bobos. E com aquele primeiro de abril vieram várias e várias mentiras, entre elas, que não houve golpe e sim uma "revolução" para salvar o país de um "governo comunista" e, acredite se quiser, teria acontecido um dia antes, em 31 de março, e não no dia da mentira.

E como não poderia deixar de ser, muitas outras mentiras acompanharam os governos militares, e depois deles os inúmeros governos civis, que um após o outro se negaram a deixar a verdade vir à tona. Todos os governos militares conspiraram, perseguiram, torturaram, mataram, desapareceram com corpos, e para acobertar seu atos, mentiram, mentiram e mentiram. Nenhum dos governos democráticos pós 85, fossem de aliados de sempre da ditadura ou de antigos opositores, fizeram um único movimento concreto e real para que chegasse ao fim aquele fatídico dia da mentira que nunca acabou. E se não se dá o direito da verdade florescer o que de fato se alastra, ganha força, voz e vez é a desgraçada mentira de sempre. Não é a toa que o exército brasileiro teve a coragem de escrever esta nota em outubro de 2004, em pleno governo Lula:
1. Desde meados da década de 60 até início dos anos 70 ocorreu no Brasil um movimento subversivo, que atuando a mando de conhecidos centros de irradiação do movimento comunista internacional, pretendia derrubar, pela força, o governo brasileiro legalmente constituído.

À época, o Exército Brasileiro, obedecendo ao clamor popular, integrou, juntamente com as demais Forças Armadas, a Polícia Federal e as polícias militares e civis estaduais, uma força de pacificação, que logrou retomar o Brasil à normalidade. As medidas tomadas pelas forças legais foram uma legítima resposta à violência dos que recusaram o diálogo, optaram pelo radicalismo e pela ilegalidade e tomaram a iniciativa de pegar em armas e desencadear ações criminosas.

Dentro dessas medidas, sentiu-se a necessidade da criação de uma estrutura, com vistas a apoiar, em operação e inteligência, as atividades necessárias para desestruturar os movimentos radicais e ilegais.

O movimento de 1964, fruto de clamor popular, criou, sem dúvidas, condições para a construção de um novo Brasil, em ambiente de paz e segurança.
O fato ocorreu por ocasião da divulgação de fotos do jornalista Vladmir Herzog, assassinado nas dependências do Exército, em São Paulo, no dia 25 de outubro de 1975. Para acobertar o assassinato os assassinos mentiram falando que Herzog se enforcara. Quarenta anos depois quando fotos mostrariam um suposto Herzog nu e humilhado em uma cela, a nota oficial mentiu descarada e desrespeitosamente moldando a história a seu bel prazer. É verdade que houve um segunda nota depois se retratando de tamanha agressão à memória do povo brasileiro. Mas como mais uma vez ninguém foi punido, a mentira seguiu lá, à espreita, aguardando o momento certo de se espalhar novamente. E a verdade... continuou desaparecida.

Passados sete anos da nota seguida de retração, uma nova nota, essa não diretamente do comando do Exército, mas dos clubes militares, entoou:
Há quarenta e sete anos, nesta data, respondendo aos reclamos da opinião pública nacional, as Forças Armadas Brasileiras insurgiram-se contra um estado de coisas patrocinado e incentivado pelo Governo, no qual se identificava o inequívoco propósito de estabelecer no País um regime ditatorial comunista, atrelado a ideologias antagônicas ao modo de ser do brasileiro. 
(...) 
Os Clubes Militares, parte integrante da reação demandada pelo povo brasileiro em 1964, homenageiam, nesta data os integrantes das Forças Armadas da época que, com sua pronta ação, impediram a tomada do poder e sua entrega a um regime ditatorial indesejado pela Nação Brasileira.
Agora em 2012, durante o governo de uma ex-guerrilheira que combateu a ditadura, os amantes e seguidores da mentira se sentem à vontade não só de espalhá-la como comemorá-la, como fizeram os clubes militares este ano, com direito a salto de para-quedas e solenidade em Clube Militar. E como quem de direito nada faz, cada vez mais eles se sentem mais e mais fortes.

Mas 2012 já foi diferente. Mais uma vez o governo nada fez. Os arquivos continuam confidenciais. Os mentirosos celebram e seguem livres. Mas a verdade meio que se fez ouvir pelo grito rouco daqueles que ousaram estar presente àquela festa de 29/03 e que apesar dos choques, cacetetes e bombas, puderam gritar "TORTURADOR" contra cada um daqueles bandidos. Os meus sinceros parabéns aos que organizaram o 29/03/2012. Que ele possa ser o início do fim do 01/04/1964.

Pelo direito à nossa história.
Pela abertura dos arquivos confidenciais da ditadura.
Pela punição aos torturadores.
Pela reparação das vítimas dos governos militares.
Pelo fim do primeiro de abril de 1964.

Arte sobre foto de oficiais da reserva relembrando a "revolução" de 1964.
Este texto faz parte da quinta blogagem coletiva do #desarquivandoBR

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