quarta-feira, 25 de julho de 2012

Não será uma prefeitura, mesmo socialista, que dará fim às greves dos trabalhadores #ClassismoNasEleições #Gonzaga16

Está na edição do jornal O POVO de hoje com um título mais provocativo que elucidativo: "Candidato do PSTU promete fim das greves em Fortaleza". Não é a toa o formato escolhido para a chamada da matéria. Títulos provocativos vendem mais e ajudam a colar uma imagem ao objeto central do texto. No caso, a primeira coisa que imagino que venha a mente do leitor ao ser apresentado à "promessa" do prefeiturável é algo do tipo "esse pedreiro é muito é doido". E não é pra menos que se pense assim. Não será uma prefeitura, por mais socialista que se seja, que dará fim às greves dos trabalhadores. Sequer as greves dos servidores municipais poderiam ser dadas por encerradas sem mais nem menos, quanto mais as paralisações de servidores estaduais, federais e trabalhadores da iniciativa privada, estejam eles trabalhando em concessões municipais como o transporte público ou não.

Quer saber por que? Primeiro é preciso entender o que afinal de contas é uma greve.

Em seus escritos Sobre as greves lá pelos idos de 1899, o revolucionário russo Lênin esclarece que se há capitalismo, haverá necessariamente greves conforme se pode ler a seguir:
"...o capitalismo leva, necessariamente, à luta dos operários contra os patrões, e quando a produção se transforma numa produção em grande escala, essa luta se converte necessariamente em luta grevista."
No mesmo texto, Lênin esclarece o motivo disso que aliás é muito simples: os interesses antagônicos entre as classes possuidoras e as classes despossuídas. Os empresários precisam explorar para obter lucro e os trabalhadores precisam diminuir o lucro dos patrões para poder gozar uma vida melhor com sua família. Mesmo tendo toda essa clareza, nem mesmo Lênin e os bolcheviques após a revolução russa de 1917 deram fim às greves. Ainda em vida do grande lider russo, os trabalhadores realizaram grandes greves operárias para realizar exigências ao próprio governo bolchevique. E nada mais justo que o fizessem. Não é porque a revolução social se fez em um país que as classes sociais com seus interesses antagônicos deixaram de existir. Como nos cantou Cazuza, "enquanto houver burguesia não vai haver poesia", ou melhor dizendo, enquanto houver patrão haverá exploração e da mesma forma seguirá havendo luta de classes e com ela, as greves.

Voltando então às eleições municipais é bom que se diga que o candidato operário não prometeu acabar com as greves. Por mais que o jornal trate a forma como Gonzaga apresentou o tema como um "compromisso de campanha", o que ele afirmou, segundo o próprio jornal é que "Não haverá mais greve em um governo socialista como o nosso, porque os trabalhadores vão ter direitos iguais". Ou seja, a promessa foi outra: "direitos iguais a todos os trabalhadores" e não "fim das greves". E é por aí que se precisa deixar claro que o prefeiturável socialista foi, digamos assim, pouco feliz. Digo isso porque simplesmente não há como se conseguir direitos iguais a todos os trabalhadores do ponto de vista da municipalidade. É preciso muito mais que uma prefeitura para tanto. Pra falar a verdade nem mesmo um operário chegando à presidência poderia conseguir a meta de garantir "direitos iguais" e ainda mais sem as greves. Aliás é justo o contrário. As massas trabalhadoras impulsionadas pela vitória eleitoral de seu candidato, sentiriam-se mais fortes e mais dispostas a ir às lutas, e deveria ser obrigação do eleito apoiar e impulsionar tais lutas para que as transformações necessárias para garantir uma vida melhor a seus eleitores.

Então é claro que se um operário socialista fosse eleito prefeito de Fortaleza não estariam em hipótese alguma descartadas novas greves da polícia no Ceará. É claro que os professores poderiam muito bem voltar às paralisações. É claro que motoristas e cobradores poderiam voltar a paralisar os ônibus da cidade. E obviamente, é mais do que claro que pedreiros e serventes, voltariam a cruzar os braços e a "incomodar" a classe média fortalezense com suas passeatas nas ruas dos bairros nobres da cidade. Nada disso seria diferente e, sendo bem franco, o mais provável, tal como disse antes, é que os trabalhadores se sentissem fortalecidos para realizar mais greves.

O que deveria necessariamente ser diferente seria a forma como o prefeito socialista trataria estas greves, fossem elas de servidores do município ou não. Nunca que a guarda municipal poderia ser usada para agredir professores por mais que estes estivessem dispostos a ocupar a Câmara de Vereadores. Nunca que esta mesma guarda poderia utilizar de armamento letal ou mesmo o "não-letal" contra trabalhadores de uma ocupação como aconteceu na comunidade de Rosalina. Nunca que a prefeitura se colocaria ao lado dos donos de ônibus contra cobradores e motoristas no momento da campanha salarial. Nem muito menos, uma greve de trabalhadores poderia ocorrer sem contar inclusive com o apoio logísitico da prefeitura. E esse é um ponto fundamental que precisa ser esclarecido.

Não são as greves que atrapalham a cidade. As greves a tornam melhor. Se uma greve consegue diminuir a jornada de um trabalhador da saúde pública e aumentar seu salário, o nível de qualidade do atendimento deste servidor naturalmente melhora. Da mesma forma acontece com professores, garis, motoristas, agentes de trânsito, guardas municipais e um largo etcétera. O que atrapalha a cidade, seja ela Fortaleza ou outra qualquer do país, é o desejo de lucro desenfreado dos patrões. É esse desejo que faz por exemplo com que a prestação do serviço de transporte seja precária, porque quanto menos custo no transporte, mais lucro. E custo pro empresário, vai desde a quantidade e a qualidade dos coletivos até a quantidade de horas trabalhadas e salário pago ao trabalhador.

Então um candidato a prefeito socialista deveria tranquilizar seus ouvintes dizendo exatamente o contrário do que a classe média em geral, os empresários e os seus meios de comunicação querem ouvir. À pergunta de se vai ou não vai haver mais greves, seria de bom tom responder assim: "Não se preocupe meu amigo, que em minha administração, se for pra melhorar nossa cidade, greve e luta popular é o que não vai faltar".


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