domingo, 13 de novembro de 2011

Dez por cento para educação? E resolve?

Assisti esses dias um video muito bem elaborado sobre uma campanha que ocorre agora em novembro reivindicando que sejam destinados 10% do PIB nacional para a educação pública. Ei-lo:


Bem feito não? Muito bacana a idéia de usar a animação a partir de desenhos feito por uma criança, além da própria narração com voz infantil e sem falar no efeito da professora Amanda Gurgel sobre a folha de papel pautada. Com certeza, merecem parabéns os idealizadores do video.

Mas deixando o trabalho bem feito do video a parte, pense comigo:
1) Dez por cento do PIB para educação resolve o problema no país?
2) Aliás o problema do país se resolve simplesmente com mais verba para educação?
3) E de que vale mais verba se existe inclusive dispositivo legal para desviá-la para entre outras coisas fazer superávit? (vale ler sobre a DRU que foi recém reaprovada pelo governo Dilma).

Honestamente não concordo com a campanha. Acho deslocada e descolada do sentimento e das necessidades da maioria do povo (pelo menos da maioria dos trabalhadores). Veja bem, não é que não concordo com 10% para educação. Acho muito justo assim como acho "mais verba para saúde pública",  "salário mínimo do DIEESE", "estabilidade no emprego", "redução da jornada""trabalho igual, salário igual", entre tantas outras bandeiras tão necessárias. Mas aí pergunto: O que faz com que a campanha dos 10% para educação seja mais justa e urgente do que qualquer outra? Por que realizar um plebiscito nacional praticamente isolado? De que serve tal plebiscito nesse instante além de simplesmente desgastar a bandeira? Aí você pergunta: "Como assim desgastar?". Permita-me explicar.

Desde o começo dos anos 2000 teve início no país uma série de campanhas plebiscitárias levadas adiante pelo movimento popular, mas via de regra elas foram abraçadas, impulsionadas e construídas pelos setores progressivos da igreja. Junto com esses setores participaram o MAB, o MST, vários sindicatos da CUT, várias entidades do movimento estudantil e um largo etcétera. A campanha contra a ALCA, por exemplo, que teve direito a cartilhas, comitês, seminários preparatórios e um número enorme de iniciativas conseguiu 10 milhões, 149 mil e 542 votos. A última campanha foi feita em 2007, em pleno governo Lula, e tocava em quatro temas: a reestatização da Vale, pagamento de juros da dívida externa, o barateamento da energia elétrica para as grandes empresas e a reforma da previdência. Nesta foram 3 milhões, 729 mil e 538 participantes. E isso com uma campanha de muitos setores. Já quando vamos no blog da campanha dos 10% não vemos setores da igreja, não vemos MAB, MST, parlamentares da esquerda, sindicatos cutistas, UNE, UBES... pergunto: É sério que era o momento para levar adiante um plebiscito desse? É esse o tema mais sentido pela maioria do povo brasileiro? Não seria o caso de lutar pela carreira dos professores que entram em greve aqui e acolá? Ou quem sabe fazer um chamado pela unidade dos trabalhadores da construção civil que vão se matar de trabalhar nas obras da copa? Uma campanha de propaganda e agitação sobre as dívidas interna e externa não teriam um eco mais amplo?

Minha impressão é alguns irão se dedicar muito e muito, terão um resultado muito inferior aos anteriores, terminarão novembro cansadíssimos e ainda assim vão achar que fizeram a sua parte. Os reacionários vão simplesmente se deleitar com o resultado pífio, ou mesmo nem perderão tempo falando sobre isso.

Que pena.

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