quinta-feira, 19 de julho de 2012

Onde estão afinal as crianças negras? #RacismoAGenteVePorAqui

A revista Crescer, segundo ela própria, é uma fonte de "Informação e inspiração para mães e pais"... só que europeus pelo jeito.

Quem minimamente acompanha ou acompanhou a revista, nem que seja somente observando suas capas, tem ou já teve dificuldades de encontrar algum rostinho que não seja de uma criança branca, digna de uma Finlândia ou Suécia. Nada de negros, asiáticos, latinos ou qualquer outra corzinha brasileira que destoe um pouco que seja das bochechas rosadas e seus cabelinhos loiros e ruivos com seus olhinhos preferencialmente verdes ou azuis.

A jornalista Ericka Guimarães que há pouco mais de uma ano acompanha a revista não só percebeu o pequeno "descuido" da revista das organizações Globo como encaminhou um e-mail para a redação da revista perguntando "Cadê a diversidade?". A revista respondeu dizendo:
De fato, faz algum tempo que não temos capas com crianças negras, mas costumamos fazer muitas fotos com crianças de todas as raças em nossas reportagens, como você pode ver em todas as edições da Crescer.
Não satisfeita com a resposta (e alguém poderia ficar?) Ericka resolveu procurar as tais muitas fotos com crianças de todas as raças nas reportagens da revista e adivinhem só? Das 46 crianças que emprestam seus rostinhos para as reportagens da edição de julho de 2012, 3 são negras e 1 teria traços asiáticos. Pelo jeito seis por cento de negros e dois de asiáticos, já está acima da cota da tolerância à diversidade possível de ser exibida na revista.

Esperar o que da turma do seu Roberto Marinho não é mesmo?

A indignação da jornalista pode ser acompanhada em seu blog aqui e aqui.

7 comentários:

  1. há um viés, sem dúvida. a revista é branca e elitista, muito elitista. o público alvo é a classe alta (b, a, aa), como é o público de todas as publicações da ed. globo (a abril ainda finge, destinando às empregadas, publicações de qualidade duvidosa sobre tv/culinária). da mesma forma a pais&filhos. dei uma olhada na página deles e é igual.

    mas, espanta mesmo os comentários. nem sei pq insisto em ler comentários, sempre me assustam! verdade q os meus devem assustar tb :/

    tem um pessoal que apóia as críticas da jornalista, um pessoal abertamente racista e conservador, e o pessoal liberal. esses últimos acreditam que nada precisa ser feito, que não é papel da revista contemplar a diversidade brasileira já que tem público alvo bastante restrito e que, se negros ou outros grupos subrepresentados quiserem, que criem uma revista voltada para si, nos moldes do que ocorre nos eua. nada de misturar tudo e conviver. o negócio é cada um no seu quadrado, sem reclamar. onde esse pessoal quer chegar com essa defesa incondicional do individualismo e a negação da sociedade?

    mas, o mais assustador, foi um cara que se identificou como minoria (descendente de indígenas), criticando a jornalista por ter focado na questão negra. a crítica é pertinente. concordei com ele, mas a forma como ele estrutura o pensamento deu o que pensar. minoria batendo em minoria com argumentos equivocados desagrega, separa, tira a força.

    outros tb levantaram esse ponto, em relação à revista. além de representar apenas brancos e preferencialmente de olhos claros, ainda não havia nenhuma criança com necessidades especiais ou que fugisse do padrão de beleza infantil (a gente se dá conta que a opressão da beleza começa muito cedo, não?).

    muito o que pensar. mas pessoal ainda não consegue desviar o olho do próprio umbigo.

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    1. Oi Cora,

      Não cheguei a ver os comentários como você mas imagino de fato que não devam faltar comentários racistas. Na verdade seria de se estranhar se não tivesse. Vivemos em um mundo racista. "Não existe capitalismo sem racismo" não nos deixa esquecer Malcom X.

      Achei bacana a chamada que você encontrou nos comentários sobre as pessoas com necessidades especiais, embora não possamos comparar com a questão negra. Somos, negros e 'pardos', 43% da população brasileira. Quer dizer, somos oficialmente 43%. Na prática somos ainda mais homens e mulheres que desgraçadamente sequer conseguimos nos enxergar como realmente somos. Por isso é preciso fazer a ressalva que a única coisa comum aí no caso é que ambos estão fora da revista.

      Já quanto a questão indígena acho que é algo a se avaliar com mais vagar, já que existe uma dívida histórica com o povo indígena tal como existe com os afrodescendentes, apesar de seu nível de inserção na sociedade brasileira ser bem diferente da do povo negro.

      Muito ainda o que pensar tal como você disse.

      []'s

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  2. ah! não consigo ter essa calma. essas coisas sempre me fazem mal. eu tento evitar os comentários, mas eu fico procurando identificação, empatia. eu sei que a internet não é uma boa amostra do que pensa a população, mas as análises sobre isso no brasil são tão poucas (ou tão mal divulgadas). e os grupos de ódio fazem tanto barulho. encontrar quem se identifica com esses discursos é sempre ruim.

    não comparo a questão dos deficientes com a questão negra, não. mas, entendi pq vc disse isso (eu sou prolixa, vc sabe, aí qdo eu tento cortar coisas...). ficou parecendo que eu quis desviar o foco do debate ou minimizar o problema, né?

    a questão racial é evidente pra mim.

    vc tá certo. não conseguimos nem mesmo nos enxergar como somos. brasileiro acha que é branco. o Chico Buarque disse isso numa entrevista uma vez e deixou muita gente indignada.

    a crítica da jornalista é totalmente pertinente da forma como foi feita. o visitante que levantou a bola dos deficientes só adicionou um dado ao debate. não foi ele q menosprezou a crítica, não. pelo contrário, endossou e ainda acrescentou que, de fato, a revista não tem preocupação nenhuma com a diversidade. acho importante incluir a questão dos deficientes por ser uma revista que trata da infância (tema interessante pra debate).

    (persistindo no erro! ok, parei!)

    no entanto, os pontos do meu comentário eram dois: a negação, pelos liberais, da sociedade e seu papel transformador (ou não), e minorias que criticam minorias.

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  3. A resposta sincera da revista: http://moscosos.wordpress.com/2012/07/21/a-resposta-sincera-da-crescer/

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  4. http://religioesafroentrevistas.wordpress.com/2012/07/23/revista-crescer-feita-para-criancas-brancas/

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